O Parlamento do Iraque aprovou, neste domingo (5), uma resolução que pede ao governo o fim das atividades de tropas militares estrangeiras no país. A decisão foi tomada dias depois que um ataque dos Estados Unidos matou o segundo homem mais importante do Irã, o general Qasem Soleimani, em Bagdá.
Em tese, o governo iraquiano não é obrigado a cumprir a resolução aprovada pelos parlamentares, mas é importante ressaltar que o texto foi aprovado a pedido do próprio primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi, que não correrá o risco de se colocar contra a vontade da população local, que certamente se insurgiria. Durante a sessão do Parlamento, Mahdi considerou a morte de Soleimani um “assassinato político”. Milhares de pessoas acompanharam o velório do general Qasem Soleimani neste domingo (5) no Irã e, no sábado (4), no Iraque.
O texto aprovado pelos parlamentares iraquianos pede o imediato cancelamento de qualquer pedido pedidos de ajuda do Iraque ao governo dos Estados Unidos. As tropas americanas estão no país a convite de Bagdá.
Também neste domingo (5), os EUA, que lideram a coalizão de 74 nações e 5 organizações contra o Estado Islâmico, anunciaram a suspensão da maior parte das operações contra o grupo terrorista e dos treinamentos de forças iraquianas que participam do esforço conjunto.
“O governo se compromete a revogar seu pedido de assistência da coalizão internacional que luta contra o Estado Islâmico devido ao fim das operações militares no Iraque e à conquista da vitória”, destaca o texto aprovado no Parlamento do Iraque.
Cerca de 5,2 mil soldados dos Estados Unidos estão nas bases militares iraquianas para treinar e apoiar as forças de segurança locais e combater o Estado Islâmico. Como as tropas estão lá a convite do governo iraquiano, a decisão de cancelar o pedido de ajuda, teoricamente, as forçaria a sair do país, diz o “The New York Times”.
Soldados norte-americanos e milícias iraquianas – algumas delas financiadas pelo Irã – já lutaram conjuntamente contra o Estado Islâmico entre 2014 e 2017. Contudo, a drástica redução do território ocupado pelo grupo provocou uma nova queda de braços entre Washington e Teerã, em especial nos últimos dois anos.
Com a irresponsável política externa comandada por Donald Trump, os EUA retomaram a intransigência como modelo de negociação, quando, na verdade, o diálogo é que deveria prevalecer. De olho em interesses geopolíticos e comerciais no Oriente Médio e decididos a proteger cada vez mais Israel, os EUA passaram a apostar na imposição da própria vontade, a exemplo do que sempre fizeram, como se o restante do planeta devesse se curvar diante da Casa Branca.
Considerando que o Irã, que volta e meia é alvo de sanções comerciais e financeiras por parte dos EUA, também tem interesses na região, o cenário de ameaças entre Teerã e Washington começou a esquentar com o passar do tempo.
Antes da morte de Qasem Soleimani, cresceu a pressão de milícias xiitas e aliados do Irã para que as tropas militares norte-americanas deixassem o Iraque, como noticiou a Deutsche Welle.
História antiga que se repete
Os Estados Unidos iniciaram a presença militar no Iraque em 2003, quando invadiram o país para derrubar Saddam Hussein, sob a alegação de que o então ditador mantinha um arsenal de armas químicas. Esse cenário grotesco apresentado pelos EUA não se confirmou, mas serviu de desculpa para o então vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, comandar a invasão do Iraque.
Em 2000, quando George W. Bush convidou Cheney para ser seu candidato a vice-presidente, o editor do UCHO.INFO, que à época residia nos EUA, afirmou que a invasão do Iraque (a segunda) seria uma questão de tempo, caso o então candidato republicano vencesse a corrida à Casa Branca.
Isso porque, por trás das acusações infundadas contra Saddam estavam interesses comerciais escusos, pois afinal Cheney foi presidente da Halliburton, empresa petrolífera norte-americana. Além disso, Dick Cheney foi secretário de Defesa dos EUA no governo de George H. W. Bush (pai), tendo comandado a “Operação Tempestade no Deserto”, que desaguou na Guerra do Golfo. Ou seja, Cheney tinha informações precisas sobre o Iraque e seu potencial petrolífero.
Os soldados americanos deixaram o país gradativamente ao longo dos anos, com a saída definitiva em dezembro de 2011, mas retornaram três anos mais tarde, a pedido do governo de Bagdá, para combater o Estado Islâmico, que surgiu depois da deposição e da morte de Saddam Hussein.