Secretário de Defesa dos EUA desautoriza general do Exército e nega saída de militares do Iraque

A carta enviada ao comando militar iraquiano informando a retirada das forças americanas do país causou constrangimento na Casa Branca, mesmo depois de o conteúdo do documento ter sido confirmado por dois oficiais de alta patente. As agências de notícias AFP e Reuters tiveram acesso à mencionada carta, cujo conteúdo também foi confirmado por um graduado militar iraquiano.

Apesar dessas seguidas confirmações, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, negou que o país retirará suas tropas do Iraque. Ele disse a jornalistas no Pentágono que até o momento nenhuma decisão sobre eventual saída do Iraque foi tomada.

“Estamos tentando descobrir de onde isso vem, o que é isso. Mas não tomamos nenhuma decisão para deixar o Iraque. Ponto”, disse Esper, que demonstrou certo incômodo ao tratar do tema.

“Senhor, em deferência à soberania da República do Iraque, e conforme solicitado pelo Parlamento do Iraque e pelo Primeiro Ministro, o CJTF-OIR reposicionará forças ao longo dos próximos dias e semanas para se preparar para os movimentos a seguir”, destaca um trecho da carta que agitou os bastidores de Washington nas últimas horas.

“Durante esse período, haverá um aumento nas viagens de helicóptero dentro e ao redor da Zona Internacional (IZ) de Bagdá”, segue o documento, assinado pelo general de brigada do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA William H. Seely III, comandante geral da Força-Tarefa Iraque, coalizão militar liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico.

“Respeitamos sua decisão soberana de ordenar nossa partida”, ressalta o texto.

O reposicionamento das tropas americanas no Iraque acontece durante o aumento das tensões na região, na esteira do assassinato do general iraniano Qasem Soleimani, em 2 de janeiro, alvo de um ataque aéreo ordenado por Trump.

O vazamento da tal carta antes de Donald Trump capitalizar politicamente com a decisão de recuar provocou desconforto no presidente americano, que busca a reeleição e precisa reforçar a blindagem contra o processo de impeachment que tramita no Congresso.

Nenhum graduado oficial do Exército americano tomaria de forma isolada a decisão de anunciar oficialmente a retirada das tropas do Iraque sem autorização de algum superior. Ou seja, a negativa deverá perdurar por mais algumas horas, talvez dias, até que a cúpula da Casa Branca encontra uma saída honrosa para Trump, que no caso Soleimani pode ter disparado um tiro no próprio pé.