Heleno ignora “milicianos dos Bolsonaro” e sugere bafômetro a Freixo por descriminalização das drogas

Engana-se o governo Bolsonaro ao continuar apostando na radicalização do discurso e na cizânia da sociedade como forma de enfrentar os adversários ideológicos. A léguas de distância de cumprir as promessas de campanha, Jair Bolsonaro, que fez do próprio bestiário sucesso nacional, voltou a terceirizar o ataque aos desafetos, movimento que deve recrudescer com a aproximação das eleições municipais, em especial nas grandes capitais.

Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), o general reformado Augusto Heleno reassumiu a artilharia palaciana contra os adversários do governo. Nesta terça-feira (7), em postagem no Twitter, Heleno afirmou que o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) deveria fazer teste do bafômetro e “exame de saúde mental” por defender a descriminalização do consumo de drogas.

Na rede social, o chefe do GSI compartilhou um vídeo em que Freixo pede uma mobilização em favor do julgamento sobre o tema no STF, programado para ocorrer em 2019, mas por ter sido retirado de pauta em razão da polêmica do COAF deverá ser julgado no corrente ano.

“Dep Federal MARCELO FREIXO/PSOL/RJ. Uma pregação inacreditável. Merece um exame de sanidade mental, seguido de bafômetro. Os pais, que ainda pretendem educar seus filhos no caminho do bem precisam reagir”, escreveu Augusto Heleno.

Usar a máquina estatal e o dinheiro público para atacar adversários é fácil, mas não coaduna com a suposta retidão de caráter de um militar, como se prega Brasil afora. O UCHO.INFO não tem procuração para defender Marcelo Freixo – caso tivesse não faria tal defesa –, assim como tomou posição definitiva sobre a descriminalização do uso de entorpecentes, mas antes de sair atirando, como fez Heleno, melhor seria analisar o cenário como um todo.

Vale lembrar ao chefe do GSI que Maria Aparecida Firmo Ferreira, avó da primeira-dama Michelle Bolsonaro, durante anos ganhou a vida vendendo drogas no centro de Brasília. Em julho de 1997, Maria Aparecida, conhecida como “Tia”, foi presa pela polícia do DF com 169 “cabecinhas de merla”, subproduto da cocaína que ela vendia a R$ 5 cada.

Em outro ponto da polêmica, Augusto Heleno precisa ser informado que os milicianos do Rio de Janeiro, que apoiaram a eleição do presidente da República e do senador Flávio Bolsonaro, tomaram o lugar dos traficantes nas favelas cariocas, ou seja, assumiram o tráfico de drogas.

Ademais, beira a sandice falar em “educar filhos no caminho do bem” enquanto parlamentares empregam funcionários fantasmas e parentes de milicianos e seus respectivos gabinetes, como se essa prática fosse normal, apesar de ter se tornado comum nessa barafunda em que se transformou o Brasil.

Melhor seria se o ministro do GSI se dedicasse a buscar um método eficaz para combater o tráfico, em vez de atacar gratuitamente quem defende a descriminalização do uso de entorpecentes. Como Jair Bolsonaro ainda não mostrou a que veio, a saída é continuar jogando para sua colérica e insana plateia.