O ex-presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, apareceu em público pela primeira vez nesta quarta-feira (8), após fugir do Japão no fim de dezembro. Durante entrevista coletiva concedida em Beirute, no Líbano, Ghosn rejeitou as acusações de má conduta financeira e disse estar sofrendo perseguição política, além de acusar a Nissan e a promotoria japonesa de ataques contra ele.
“Não fugi da Justiça, mas da injustiça e perseguição política no Japão”, disse Ghosn, preso em novembro de 2018 e libertado sob fiança em abril seguinte. Ele destacou que estava aparecendo diante da mídia internacional para “limpar seu nome”. “As acusações contra mim não têm nenhuma base”, garantiu, acrescentando que o sistema judicial japonês o considerava um “suposto culpado”.
O ex-executivo, de 65 anos, que enfrenta quatro processos no Japão, denunciou “conluio em todos os lugares” entre a Nissan e a promotoria japonesa, especialmente em relação a sua prisão, dizendo-se vítima de “armação” feita exatamente quando ele se dispunha a organizar uma fusão entre a Renault e a Nissan.
Ghosn disse que a destruição de sua imagem foi “o resultado de um punhado de indivíduos sem escrúpulos e vingativos na Nissan”, em clara campanha de difamação. Ele afirmou ser alvo de “ataques vergonhosos e contínuos da mídia, orquestrados por promotores japoneses e executivos da Nissan” durante sua estada no país, onde “nunca deveria ter sido preso”.
De maneira solene e dramática, Ghosn declarou que fugir do Japão foi “a decisão mais difícil de sua vida”, e que tomou a iniciativa para “se proteger da impossibilidade de um julgamento justo nos tribunais japoneses”. Horas antes da coletiva, a equipe jurídica francesa que o representa tachou a investigação interna da Nissan de “uma grande deformação da verdade”.
O empresário, que tem nacionalidades brasileira, francesa e libanesa, é acusado de irregularidades financeiras, que sempre negou, mas pelas quais pode enfrentar longas sentenças de prisão no Japão. Ele foi detido em novembro de 2018 quando saía de seu jato privado no Japão.
Em abril de 2019, Ghosn foi libertado sob fiança após mais de 100 dias na prisão. Desde então, estava em prisão domiciliar proibido de deixar o país enquanto aguardava um julgamento sem data definida. Ele também foi proibido de entrar em contato com sua mulher, Carole, que também se tornou alvo de mandado de prisão no país. “Morro no Japão ou tenho que sair do Japão”, foi sua conclusão na época, revelou Ghosn aos jornalistas em Beirute, ressaltando que não pretendia “se fazer de vítima”, mas que era a primeira vez que podia “falar livremente”.
Carlos Ghosn fugiu do Japão num avião particular da Turquia, desembarcando no Líbano no fim de dezembro. Ele agradeceu às autoridades libanesas por “não terem perdido a fé” nele, afirmando ser “refém” de um país ao qual dedicou sua vida profissional. (Com agências internacionais)