Quando o UCHO.INFO afirmava, ainda na campanha presidencial de 2018, que Jair Bolsonaro era desprovido de competência e estofo para um cargo de tamanha relevância, como a Presidência da República, seus apoiadores se rebelavam de maneira furiosa, como se não enxergassem a realidade dos fatos. E continuam não enxergando.
Bolsonaro, que admitiu publicamente ser ignorante em diversos assuntos, a começar pela economia, disse que questões relacionadas ao tema eram de responsabilidade de Paulo Guedes, que na ocasião era cotado para assumir o Ministério da Economia, algo que se confirmou com a eleição do candidato do PSL.
Não necessário que o presidente da República seja especialista em todos os assuntos relacionados ao Estado, mas é preciso que suas declarações, mesmo que superficiais, tenham doses rasas de lógica e bom senso. E no caso de Jair Bolsonaro isso simplesmente não existe, pois uma frase anula a outra, muitas vezes na mesma declaração. Foi o que aconteceu na Índia, onde o brasileiro cumpre agenda oficial desde o final de semana.
Em território hindu, falando aos jornalistas brasileiros que cobrem a viagem do inquilino do Palácio do Planalto, Bolsonaro confundiu, em três ocasiões, tarifas de importação com impostos incidentes sobre empresas. O presidente afirmou que a redução de impostos poderia quebrar a indústria brasileira.
Questionado sobre a possibilidade de reduzir a carga tributária para as empresas brasileiras crescerem mais, como sugerindo o ministro Paulo Guedes – medida idêntica tomou o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi –, Bolsonaro afirmou: “O Guedes já me disse que, se fizer de uma hora para outra, ele quebra a indústria nacional”. “E imposto não é só o governo federal. Temos os estaduais e os municipais.”
Horas depois, perguntado sobre o mesmo assunto, Bolsonaro voltou a tropeçar ao responder aos jornalistas: “Se reduzir de uma forma abrupta, você vai quebrar, vai desnacionalizar… Agora, a carga tributária do Brasil é um absurdo. Mas não culpe só a mim —os estados têm independência e autonomia para mexer no percentual dos impostos. É bastante complexo.”
Diante da insistência dos jornalistas brasileiros, que queriam saber sobre a redução de impostos e a proposta do governo para a reforma tributária, Jair Bolsonaro não aguentou a pressão e, mais uma vez, destilou seu espantoso despreparo para o cargo ao responder de forma evasiva e dissimulada.
“Eu já falei que não entendo nada de economia. Eu contratei um ‘posto Ipiranga’… E eu não vou contratar o Nelson Piquet para trabalhar comigo e botar do lado, enquanto eu dirijo o carro”, disse.
O Brasil não esperava que Bolsonaro fosse uma versão moderna e tropical de Aladim, o folclórico gênio da lâmpada maravilhosa, até porque seu currículo não lhe dá direito a esse arroubo, mas é preciso que suas declarações tenham um mínimo de coerência. Do contrário, investidores internacionais passarão a desconfiar ainda mais do Brasil.
O mais interessante nessa epopeia chicaneira, marcada pela incompetência e pelo desvario, é que muitos dos seus apoiadores insistem em afirmar que Jair Bolsonaro é o melhor presidente de todos os tempos. Nós, do UCHO.INFO, ficamos a imaginar o que seria do Brasil se Bolsonaro fosse o pior deles.