Moro deve explicações por ter deixado de fora da lista de procurados miliciano ligado a Flávio Bolsonaro

Quando foi convidado pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro para comandar o Ministério da Justiça, que no início do atual governo incorporou a pasta da Segurança Pública, o ex-juiz Sérgio Moro viu naquela ocasião uma oportunidade de levar adiante seu projeto de poder, que tem como meta subir a rampa do Palácio do Planalto. Moro, que desconversa quando perguntado sobre o assunto, alega que uma indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) está de bom tamanho.

O ministro da Justiça tem o direito de mascarar a verdade, mas não pode querer que a massa pensante acredite nesse embuste. Até porque, a queda de braços protagonizada recentemente com o presidente da República deixou claro que as intenções de Moro vão além do STF, mais precisamente no lado oposto da Praça dos Três Poderes.

Diante da ameaça de Bolsonaro de recriar o Ministério da Segurança Pública, depois de reunir-se com secretários estaduais do setor sem a presença de Moro, o ex-juiz da Lava-Jato decidiu partir para o blefe, apostando a popularidade emperrada do chefe. Disse a aliados que se a proposta fosse consumada, deixaria o governo.

Ameaças à parte, Bolsonaro e Moro são interdependentes, por isso ambos recuaram em suas declarações, talvez convencidos pelos respectivos assessores, mas a fustigação entre ambos avança silenciosamente nos subterrâneos do poder. E nesse embate vencerá quem tiver a melhor estratégia.

Moro, que não manifestou publicamente disposição para blindar o senador Flávio Bolsonaro no escândalo das “rachadinhas”, caso que tem na proa o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, perdeu pontos com o presidente, que passou a hostilizá-lo em eventos oficiais, sempre à sombra de piadas e chistes.

No afã de colocar água fria na fervura, o ministro Sérgio Moro deixou de fora da lista de criminosos procurados (Banco Nacional de Monitoramento de Prisão), divulgada na quinta-feira (30) pelo Ministério da Justiça, o ex-capitão da Polícia Militar fluminense Adriano da Nóbrega, foragido da Justiça há mais de um ano.

Adriano da Nóbrega é conhecido no submundo do crime do Rio de Janeiro de ser um dos fundadores do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel que atuam no estado. Além disso, Nóbrega é investigado no caso das “rachadinhas”, pois o caixa de Fabrício Queiroz foi abastecido a partir de suas contas bancárias. Não obstante, o “matador de aluguel” conseguiu nomear a mãe e a esposa como servidoras do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Em 2005, em discurso no plenário da Câmara dos Deputados, o então parlamentar Jair Bolsonaro fez um discurso em defesa de Adriano da Nóbrega, à época condenado por homicídio. Em novo julgamento, o ex-capitão foi absolvido. Durante o período em que cumpriu prisão preventiva, Nóbrega foi homenageado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes.

Coincidência ou não, Adriano da Nóbrega comanda a milícia que age na comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste carioca, onde Flávio Bolsonaro, na eleição de 2018, venceu em 74 das 76 das seções eleitorais. Ou seja, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

A lista de procurados do Ministério da Justiça tem 27 nomes, sendo apenas uma mulher. De acordo com a assessoria da pasta, Adriano da Nóbrega não foi incluído na lista de procurados porque “as acusações contra ele não possuem caráter interestadual, requisito essencial para figurar no banco de criminosos de caráter nacional”.

Essa alegação seria aceitável se outros dois procurados não tivessem o mesmo “status” de Adriano da Nóbrega. São eles: Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Danilo Dias Lima, o Tandera, que atuavam em milícias de Campo Grande, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Tandera, braço direito de Ecko, é suspeito de “lavar o dinheiro oriundo de atividade criminosa da milícia, adquirindo bens de luxo, como mansões, cavalos de raça, carros, entre outros”.

Tomando por base o dito popular de que “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”, o nome de Adriano da Nóbrega não poderia ter ficado de fora da lista de procurados pela Justiça. Sérgio Moro, que foi guindado por parte da opinião pública ao panteão dos falsos heróis nacionais, deve uma explicação aos cidadãos de bem. Até porque, o brasileiro não aguenta mais esses compadrios chulos e rasteiros que dominam a política nacional.

Contudo, o fato em si não assusta quem conhece os meandros da Lava-Jato, pois quem atropelou a legislação vigente e o Estado de Direito para condenar corruptos, muitas vezes com base em indícios e depoimentos de encomenda, é capaz de tudo.