Surto de coronavírus supera número de mortes causadas pela SARS na China, em 2002-2003

O número confirmado de mortes pelo surto do novo coronavírus subiu para 425 nesta segunda-feira (3) e superou as causadas pela epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), em 2002-2003 – foram 349 óbitos na China continental. O número de infecções na China também aumentou significativamente nesta segunda-feira, passando para mais de 20,4 mil.

As 57 novas mortes confirmadas representam o maior aumento desde que o vírus foi detectado no final de 2019 na cidade chinesa de Wuhan, onde se acredita que o coronavírus tenha sido transmitido de animais para humanos em um mercado local.

Desde então, o vírus se espalhou para mais de 24 países, apesar de muitos governos imporem proibições de viagem a pessoas vindas da China. O Japão lidera com 20 casos, e a Tailândia, com 19.

Na Europa, o vírus infectou dez pessoas na Alemanha, seis na França, além de duas no Reino Unido, Rússia e Itália cada. Na Suécia, Finlândia e Espanha tiveram um caso cada um.

O Ministério da Saúde do Brasil acompanha 14 casos suspeitos, sendo que metade está em São Paulo. Há suspeitas também no Rio Grande do Sul (4), Santa Catarina (2) e Rio de Janeiro (1).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou emergência de saúde global, sendo que a primeira morte fora da China foi registrada no domingo (2) nas Filipinas: um homem de 44 anos de Wuhan que viajou para o país asiático localizado no Oceano Pacífico, através de Hong Kong.

Por outro lado, o diretor- da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse em Genebra que proibições de viagens são desnecessárias. “Não há motivo para medidas que interfiram desnecessariamente com viagens e comércio internacional”, afirmou Ghebreyesus. “Pedimos a todos os países que implementem decisões consistentes e baseadas em evidências”, completou.

Nesta segunda-feira, a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying, disse a repórteres que os Estados Unidos “fabricaram e espalharam pânico”, contrariando assim recomendações da OMS. O pânico, segundo a China, seria causado pelo fato de os EUA retirarem seus cidadãos do país asiático e restringir viagens, em vez de oferecer auxílio significativo.

A SARS, causada por um patógeno (ou causador de doenças) semelhante ao novo coronavírus e também originário da China, matou 774 pessoas – com a maioria das mortes ocorrida em Hong Kong.
O vírus também está gerando um impacto econômico cada vez mais pesado, fechando negócios em toda a China, encerrando as linhas de produção de grandes empresas e restringindo viagens internacionais.

No primeiro pregão desde 23 de janeiro, as ações na Bolsa de Xangai despencaram quase 9% na manhã desta segunda-feira pouco após o início da sessão por causa dos desdobramentos do surto de coronavírus, com os investidores voltando do feriado do Ano Novo Lunar, que foi prolongado para impedir que as pessoas viajassem pela China. A Bolsa de Shenzhen também reabriu em queda de 9%.

Escolas e universidades fechadas

Em Wuhan, que se transformou de um movimentado centro industrial em uma cidade quase fantasma, os serviços de saúde estão sobrecarregados e o governo está correndo para construir dois novos hospitais em prazos extraordinariamente rápidos.

O primeiro deles, uma instalação para mil leitos, receberá pacientes a partir desta segunda, apenas dez dias após o início da construção. Cerca de 1.400 médicos militares atenderão os pacientes no hospital, de acordo com a mídia estatal. A construção de um segundo hospital com 1.500 leitos está em andamento.

No entanto, com o número de mortos aumentando em Wuhan e em outros lugares da província de Hubei, não ficou imediatamente claro qual será o impacto sobre esses hospitais com o vírus se espalhando em outros locais

A cidade industrial de Wenzhou, no leste do país, foi colocada no domingo sob um bloqueio semelhante ao de Wuhan. As estradas de Wenzhou, localizada a cerca de 700 quilômetros de Wuhan, foram fechadas e seus 9 milhões de moradores receberam ordens para ficar em casa. Somente um residente por família em Wenzhou pode sair de casa a cada dois dias para comprar artigos de primeira necessidade, anunciaram as autoridades. A cidade se une aos 14 municípios da província de Hubei que permanecem bloqueados em meio a um número crescente de mortes.

O surgimento do vírus coincidiu com o Ano Novo Lunar, quando centenas de milhões de chineses viajam pelo país para reuniões familiares. O feriado, originalmente programado para terminar na última sexta-feira, foi prolongado por três dias para dar às autoridades mais tempo para lidar com a crise.

Mas algumas grandes cidades, incluindo Xangai, prorrogaram o feriado novamente, e muitas escolas e universidades atrasaram o reinício de suas atividades.

Os países do G7 – Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e EUA – já registraram casos da doença em seus territórios. Eles irão discutir uma resposta conjunta, afirmou o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, no domingo.

EUA, Austrália, Nova Zelândia e Israel proibiram a visita de estrangeiros se eles estiveram recentemente na China e também alertaram seus cidadãos a não realizarem viagens para o território chinês. Mongólia, Rússia e Nepal fecharam suas fronteiras terrestres. (Com agências internacionais)