Bolsonaro alega estar “saturado” e prefere não ouvir explicações de Weintraub sobre trapalhada no Enem

Em mais uma inequívoca demonstração de que é desprovido de competência e estofo para o cargo de presidente da República, Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (3) que preferiu não ouvir as explicações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, sobre os problemas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por estar “saturado”.

“Ele queria apresentar para mim uns dados e eu não quis porque tô com a cabeça cheia. Hoje eu saturei. Eu conversei e quase todo mundo. Tem problema, é natural, agora isso representa menos de zero vírgula alguma coisa o problema que tivemos”, afirmou ao chegar ao Palácio da Alvorada.

A declaração foi feita no retorno do presidente a Brasília, depois de viagem à capital paulista. Para quem disse, durante a campanha eleitoral, ser o único candidato capaz de resolver os problemas do Brasil, Bolsonaro cansou muito rapidamente.

Na manhã desta segunda-feira, Bolsonaro viajou a São Paulo, onde participou de almoço Fiesp e de cerimônia de lançamento de um colégio militar que será construído na zona norte paulistana, ao lado do aeroporto do Campo de Marte. O ministro da Educação acompanhou o presidente da República na viagem à capital dos paulistas.

Beira a irresponsabilidade a postura de um chefe de Estado que se recusa a ouvir de assessores relatos sobre um problema grave, que afetou não apenas o Enem, mas também o processo de seleção para instituições de ensino superior, o Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

Em qualquer país minimamente sério e com governante com doses rasas de responsabilidade, Weintraub já teria sido demitido. Além das recentes derrapadas no Enem, o ministro destila ódio na maior parte do tempo como forma de impor sua ideologia, como se o brasileiro fosse obrigado a engolir suas sandices, que na verdade beiram espetáculos picarescos. Além disso, Abraham Weintraub mostram-se um ignorante contumaz quando tenta destilar sabedoria, o que acaba culminando no assassinato da gramática e outros quetais.

A permanência de Weintraub à frente da Educação é um problema sério para Bolsonaro, pois o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já sinalizou que está disposto a liderar uma cruzada contra o ministro que conseguiu a proeza de confundir kafta com Kafka e acepipes com asseclas. Sem contar outras proezas na seara da língua mater.

A questão que paira na órbita de Weintraub é que se uma possível – e necessária – demissão for consumada agora, o presidente da República sairá do episódio pequeno em termos políticos, passando ao Congresso a mensagem que cede a qualquer pressão dos parlamentares.

Abraham Weintraub esteve na “marca do pênalti” nos últimos dias, pois seu posto foi cogitado para acomodar Onyx Lorenzoni, que por um triz não foi despejado da Casa Civil na esteira da onda de demissões que chacoalhou a pasta. Depois de avaliar os efeitos colaterais do estrago produzido por Bolsonaro, o staff palaciano aconselhou o presidente a adotar cautela a adiar a esperada reforma ministerial.

Com isso, o Brasil terá de enfrentar o comportamento tosco e galhofeiro do ministro da Educação, sem contar que será obrigado a assistir Lorenzoni a desempenhar o papel de despachante de luxo da Presidência, já que a Casa Civil foi esvaziada e perdeu a razão de existir.