Na segunda-feira (3), na cerimônia de abertura dos trabalhos de 2020 do Judiciário, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou durante discurso no Supremo Tribunal federal (STF) que o governo Bolsonaro não precisou recorrer ao presidencialismo de coalizão para aprovar a reforma da Previdência.
Mourão, que não chegou ao posto de general de Exército nem ao cargo de vice-presidente da República pegando carona na tolice, sabe que o governo de Jair Bolsonaro está longe de ser uma reunião de bem-intencionados monges tibetanos, pelo contrário. Basta ver o que o presidente Bolsonaro tem feito para blindar o filho Flávio e o amigo de longa data Fabrício Queiroz no âmbito do escândalo das “rachadinhas”.
“Ficou claro que não é necessário utilizar-se de condutas antirrepublicanas para a aprovação das reformas estruturantes que o País necessita, como foi a reforma da Previdência, que contou com o comprometimento de todos os Poderes e da sociedade brasileira”, disse Mourão.
Como qualquer cidadão, Hamilton Mourão tem direito à livre manifestação do pensamento, mas não pode querer que a população creia piamente em suas declarações, pois seu discurso no STF está bem distante da realidade. Quem conhece os meandros do atual governo sabe que a condenável mesmice de outrora continua prevalecendo, mesmo que de maneira mais discreta e longe dos holofotes.
Para provar que o ‘toma lá, dá cá” continua em marcha basta confrontar os nomes de alguns dos parlamentares que votaram a favor da reforma da Previdência com os das pessoas que dão as cartas no setor da mineração brasileira. Trata-se de um negócio bilionário que desperta interesses escusos e dos mais variados, sendo que os operadores são os “velhacos” de sempre.
Ex-ministro da Secretaria de Governo, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz foi informado, enquanto no cargo, sobre os ilícitos cometidos na mineração por pessoas ligadas a políticos ligados direta ou indiretamente ao governo ou à base de apoio de Bolsonaro no Congresso Nacional. As informações levadas ao então ministro estavam contidas em inúmeras matérias do UCHO.INFO. Por eventualmente ter iniciado um vasculhamento em área de interesses bilionários, Santos Cruz acabou sendo ejetado do governo Bolsonaro.
O ainda ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de igual modo sabe o que acontece na mineração brasileira. Tanto é assim, que antes mesmo de o governo Bolsonaro estrear oficialmente o ministro abrigava em seu gabinete o ex-deputado federal Leonardo Quintão (MDB), que foi levado para a Casa Civil na condição de “secretário especial” para articulações políticas, mas não durou muito tempo.
Quintão é ligado a Victor Hugo Bicca, diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão criado no apagar das luzes do governo Temer, com as bênçãos de Eliseu Padilha e Fernando Bezerra Coelho (atual líder do governo no Senado), para substituir o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que integrava o “guarda-chuva” do Ministério de Minas e Energia, que à época era comandado por Fernando Coelho Filho. Coincidência ou não, o último diretor do DNPM foi Victor Bicca.
Lorenzoni não apenas conhece as ilegalidades cometidas na seara da mineração, mas corou a face durante reunião na Casa Civil com representantes do setor, quando recebeu em mãos um dossiê com inúmeras matérias do UCHO.INFO sobre as barbaridades que acontecem no setor com a aquiescência do atual governo. Desconcertado, Onyx Lorenzoni mudou de assunto e levou a reunião para outro vértice.
Resumindo, Hamilton Mourão, por lealdade, pode até vender a ideia de “bom-mocismo” por parte do governo Bolsonaro, mas dizer que práticas antirrepublicanas deixaram de existir é mero devaneio. Até porque, o “toma lá, dá cá” agora é pago em ouro, diamante, cobre, minério de ferro, grafite… Com a palavra, Onyx Lorenzoni, Victor Bicca, Eliseu Padilha, Fernando Bezerra Coelho e seus quejandos.