PF abre inquérito para investigar secretário de Comunicação de Bolsonaro por peculato e corrupção

Ao contrário das promessas feitas durante a corrida presidencial de 2018, Jair Bolsonaro, que garantiu, caso eleito, governar de forma inovadora, diferente de tudo o que se viu até o momento. Fiel representante da “velha política”, Bolsonaro precisava chegar ao poder para repetir o que fizeram os antecessores, mesmo que a seu modo.

Faltando uma semana para o segundo turno da última eleição presidencial, Bolsonaro, em discurso transmitido por vídeo para apoiadores que se aglomeravam na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, afirmou: “Sem indicações políticas, faremos um time de ministros que realmente atenderá às necessidades do nosso povo”.

Certo de que a massa ignara acreditaria em suas palavras, o então candidato do PSL foi além: “Vagabundo vai ter que trabalhar. Vai deixar de fazer demagogia junto ao povo brasileiro. Vocês verão as instituições sendo reconhecidas”. Tudo no melhor estilo demagógico.

Sabem os brasileiros de bem que o governo federal transformou-se em uma reunião de incompetentes, com direito a puxadinho de última hora para abrigar apaniguados e amigos do presidente da República e dos seus filhos. Ou seja, o modus operandi do atual governo é idêntico ao dos anteriores ou pior.

Para confirmar esse cenário de mesmice, a Superintendência Regional da Polícia Federal em Brasília abriu, nesta terça-feira (4), inquérito para investigar Fábio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. A investigação tem no cardápio supostos crimes de peculato, corrupção passiva e advocacia administrativa e foi aberta a pedido do Ministério Público Federal, com base em reportagens do jornal “Folha de S.Paulo”.

Wajngarten, que chegou ao cargo por indicações cruzadas de amigos dos amigos da família presidencial, é sócio da FW Comunicação e Marketing, que mantém contratos com cinco empresas contratadas pelo governo e que recebem recursos direcionados pela Secom, entre elas as redes de TV Band e Record.

O secretário declarou que os contratos foram negociados antes de sua chegada à Secom, o que, na sua opinião, não configura ilícito. Mesmo assim, esse inequívoco conflito de interesses provocou enorme desgaste ao governo. O presidente da República, que cobrou explicações do assessor, disse, horas depois, que Fábio Wajngarten continuaria no cargo e eventuais ilegalidades seriam verificadas mais adiante.

“Se foi ilegal, a gente vê lá na frente. Mas, pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional. Se fosse um porcaria, igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele”, disse Bolsonaro no dia 16 de janeiro, quando deixava o Palácio da Alvorada.

Jair Bolsonaro acostumou-se nos últimos meses, como presidente, a abafar escândalos para de preservar o governo e a própria imagem, como se a capacidade de raciocínio da parcela pensante da população fosse próxima de zero. Há no caso em questão uma flagrante violação da Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013, também conhecida Lei de Conflito de Interesses, que proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões.

Em países sérios, Wajngarten já teria sido demitido e todos os seus atos estariam sob suspeição, pois é inaceitável que essa situação conflituosa seja considerada normal, apesar de ser comum na política nacional. E um erro anterior não justifica outro cometido atualmente.