A delinquência intelectual que embala a existência de Jair Bolsonaro, presidente da República, chega a ser nauseante. No vácuo de grave crise com o Congresso Nacional, iniciada pelo chefe do GSI, Augusto Heleno, e fermentada por ele próprio [presidente], Bolsonaro disse nesta quinta-feira (27), durante transmissão ao vivo pela internet, que não renunciará ao mandato e que está sob ataque de veículos de imprensa por ter reduzido verbas de publicidade.
“Não vou renunciar ao meu mandato, não vou dar dinheiro para imprensa”, disse o presidente em transmissão pelo Facebook. “Eu acredito que estou fazendo um trabalho bom, na medida que eu posso. Parece que não posso mudar nada”.
Bolsonaro, como sempre afirmou o UCHO.INFO, é um adepto confesso da ruptura democrática, por isso lança seus balões de ensaio para testar os limites dos Poderes constituídos. Diante da reação dos que defendem a democracia e o Estado de Direito, o presidente recorre ao vitimismo para justificar-se junto às sucias que o seguem e aplaudem.
Ciente de que incorreu em crime de responsabilidade no caso do compartilhamento do vídeo-convite para protesto contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), o que de chofre enseja pedido de impeachment, como prevê a Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, o presidente da República agora culpa a imprensa por seus devaneios totalitaristas, como se a massa pensante da população não soubesse quem é de fato o chefe do Executivo federal. Um totalitarista convicto que exalta a memória de ditadores e homenageia de forma recorrente o torturador-geral da República, o facinoroso Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Culpar a imprensa é a desculpa esfarrapada que todo governante tosco e desqualificado tem no bolso do colete quando a situação chega ao ponto da insolubilidade. Como Jair Bolsonaro é um néscio, algo que admitiu publicamente durante entrevista, atacar veículos de comunicação e jornalistas tornou-se comum nessa democracia que começa a cambalear diante do esquife da ditadura.
Outrossim, é torpe a alegação de Bolsonaro de que a imprensa o ataca por conta da redução das verbas publicitárias do governo. Os veículos que se dedicam ao jornalismo independente não precisam de verbas oficiais, ao contrário do que acontece com determinadas emissoras de televisão, que se dedicam à sabujice jornalística e cujos donos sempre se fazem presente em Brasília para os famosos “beija-mão”. Silvio Santos e Edir Macedo que o digam!
Além disso, os mais importantes veículos de comunicação – não obrigatoriamente os maiores – que se dedicam ao jornalismo profissional, ético e verdadeiro, não estão a esmolar à porta do Palácio do Planalto nem a fazer romaria no gabinete de Fábio Wajngarten, chefe da Secretaria Especial de Comunicação da Presidência (Secom), dono de uma agência de publicidade que tem como clientes empresas midiáticas contratadas pela Presidência, através do próprio órgão, e por vários ministérios.
Há dias, Jair Bolsonaro atacou a jornalista Patrícia Campos Mello, da “Folha de S.Paulo”, com insinuações de cunha sexual porque não gostou dos desdobramentos da reportagem sobre distribuição em massa de mensagens por meio de aplicativos durante a campanha de 2018. Avesso ao contraditório, o presidente, que falsamente diz ser um defensor da democracia, teve uma atitude tipicamente calhorda quando atacou a competente e premiada jornalista da Folha.
Agora, depois que a também jornalista Vera Magalhães, do jornal “O Estado de S. Paulo”, noticiou que o presidente compartilhou, a partir do seu celular, vídeo conclamando a população para participar do protesto agendado para 15 de março, novo ataque surgiu na cena oficial, desta vez acompanhado de desculpa esfarrapada.
O presidente da República, como sempre afirmou este noticioso, não tem competência nem estofo para ocupar cargo de tamanha relevância. Mesmo assim, Bolsonaro poderia demonstrar hombridade e coragem, admitindo que errou ao compartilhar o tal vídeo. Só não o faz porque sabe que isso significa colocar o posto de presidente à beira do abismo.