O oportunismo barato que marca o governo de Jair Bolsonaro impressiona não apenas pela forma recorrente como é acionado, mas principalmente pela maneira como cada integrante da equipe presidencial recorre a essa estratégia.
A economia brasileira cambaleia desde o fim da era petista, mas durante a corrida presidencial de 2018 o então candidato Jair Bolsonaro disse ser o único postulante ao cargo com condições de solucionar os problemas do País. Passados quase dois anos, nada disso aconteceu e a economia, principal problema, continua na vala do marasmo.
Conhecido popularmente como “Posto Ipiranga”, o ministro Paulo Guedes, da Economia, que, tudo indica, está com os dias contados na equipe de Bolsonaro, profetizou que após a aprovação da reforma da Previdência o País retomaria a rota do crescimento econômico. Guedes chegou a afirmar, no segundo semestre de 2019, que o PIB do ano passado cresceria 2,4%. O ministro falhou em sua profecia, pois o PIB de 2019 ficou em mísero 1,1%.
Diante do pífio resultado, o ministro da Economia passou a buscar novas justificativas, como a necessidade de se aprovar as reformas administrativa e tributária. Ou seja, Paulo Guedes, a mando do staff palaciano, tenta transferir ao Congresso Nacional a responsabilidade pela pasmaceira econômica. Vale lembrar que o Palácio do Planalto até o momento não enviou ao Parlamento nenhuma das mencionadas propostas.
Como o governo Bolsonaro chafurda na lama da incompetência, o que exige recorrer à fanfarronice oficial, a ordem no Palácio do Planalto, assim como no Ministério da Economia, é culpar a pandemia do novo coronavírus por uma eventual débâcle no PIB de 2020, que, segundo analistas, deve chegar no máximo a 1,5%. A previsão foi feita antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar pandemia da Covid-19.
Guedes, neófito na seara política e teórico em termos econômicos, disse nesta quinta-feira (12) que por conta da pandemia do novo coronavírus o Produto Interno Bruto (PIB) do corrente ano poderá encolher um ponto percentual. Ou seja, o PIB poderá repetir o fiasco dos últimos anos.
Com o devido respeito que os esquizofrênicos merecem, Guedes parece ter sido contaminado pelo vírus da esquizofrenia política, pois o ministro, após admitir os efeitos da pandemia no PIB nacional, disse que o Brasil não está “sincronizado com a economia mundial”. Na opinião de Paulo Guedes, o País tem capacidade de reagir à crise global que cresce à sombra da Covid-19.
“Nós estávamos em pleno voo, começando a decolar, quando fomos atingidos por essa onda. Temos capacidade e velocidade de escape para mantermos nossa decolagem. Nós não estamos sincronizados com a economia mundial”, disse Guedes.
A fala de Paulo Guedes é de tal forma mentirosa, que ele próprio se dá conta do que afirma. Qualquer pessoa minimamente instruída sabe a diferença entre “pleno voo” e “começando a decolar”. O pleno voo, se é que Guedes não sabe, só é possível depois de uma bem-sucedida decolagem.
O governo Bolsonaro, que até o momento não mostrou a que veio, aposta na cizânia da sociedade e no embate com os Poderes constituídos para chegar ao seu final. Esse cenário de beligerância palaciana quase permanente reflete diretamente na economia e obriga o governo a buscar no almoxarifado palaciano desculpas das mais absurdas.
Para um governo cujo presidente até recentemente classificava o avanço do coronavírus como invencionice da imprensa, justificar de maneira antecipada o fracasso da economia é demonstração de esquizofrenia política.