Governo modulou discurso sobre coronavírus após assessor de Bolsonaro testar positivo para a Covid-19

 
Nas últimas 24 horas, o discurso do governo, mais precisamente do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em relação ao novo coronavírus mudou ainda mais, se comparado com as primeiras declarações do titular da pasta no começo da epidemia no Brasil.

Por ocasião dos dois primeiros casos de Covid -19 no País, Mandetta foi irresponsável ao ponto de afirmar que tudo não passava de “simples gripe”, como se na condição de médico desconhecesse o absurdo que estava vociferando. Que a estrutura da saúde pública brasileira é uma tragédia todos sabem, mas induzir a população a erro é crime.

Quando o UCHO.INFO afirmou em matéria que o governo Bolsonaro agia com irresponsabilidade ao tratar com desdém uma doença que poderia causar estragos enormes, os sempre insanos e descontrolados apoiadores do presidente da República não economizaram palavras torpes para nos atacar, mas o tempo, mais uma vez, mostrou que fazemos jornalismo com seriedade, ética e baseado na verdade dos fatos.

Como noticiamos em matéria anterior, pacientes supostamente infectados pelo novo coronavírus que buscaram atendimento nos hospitais públicos foram recepcionados à sombra da irresponsabilidade dos médicos, que sequer avançaram em exames, mesmo diante de relatos de sintomas pertinentes à Covid-19.

 
O UCHO.INFO acompanhou um atendimento no Hospital São Paulo, na capital paulista, e ficou impressionado com a forma como se comportaram os médicos diante do relato da paciente, que apresentava vários dos sintomas da Covid-19. Ao mencionar, entre tantos sintomas, que estava tossindo de forma intermitente, a médica prescreveu o medicamento Codeína. O pouco caso dos médicos perdurou mesmo depois da informação de que a paciente mantivera contato próximo e contínuo, por vários dias, com três pessoas que viajaram à Itália, mais precisamente a Milão.

A decisão do governo de intensificar o adoçamento do discurso sobre o novo coronavírus surgiu na esteira da informação de que o chefe da Secretaria Especial de Comunicação da Presidência (Secom), Fábio Wajngarten, testou positivo para a doença que colocou o planeta de pernas para o ar. Wajngarten acompanhou o presidente Jair Bolsonaro na recente viagem aos Estados Unidos e participou do jantar com Donald Trump, na Flórida.

O anúncio feito pelo ministro da Saúde de que medidas foram adotadas pelo governo para conter o avanço da epidemia do novo coronavírus, que até então era tratada por Bolsonaro como invencionice da imprensa, decorre da necessidade de não ter de justificar mais adiante o uso de recursos para tratar o presidente da República, seus assessores e familiares, enquanto a população permaneceria abandonada.

O fato de Luiz Henrique Mandetta ter modulado a própria fala e anunciado novas medidas não significa que a estratégia oficial surtirá efeito prático. Por enquanto, a mesma imprensa que é acusada por Bolsonaro de ser responsável pelo noticiário sobre o coronavírus aceita de bom grado o discurso visguento de Mandetta, que agora surge em cena mais dócil e afável.

Apenas para fins de registro, a matéria do UCHO.INFO sobre atendimento pífio nos hospitais públicos em caso de coronavírus, que foi alvo de críticas e ataques da patuleia bolsonarista, levou o Ministério da Saúde a abrir procedimento para investigar os fatos relatados, como demonstra e-mail enviado ao editor pelo staff do ministro Luiz Henrique Mandetta. Se a investigação chegará a algum resultado não se sabe, mas a matéria surtiu efeito e continua sendo verdadeira e coerente.