Quando ainda participava da corrida ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro prometia aos incautos eleitores que, se eleito, governaria de maneira oposta à adotada pelos antecessores. Passados mais de 14 meses, Bolsonaro tem mostrado ser “mais do mesmo”. Para piorar o cenário, o presidente é simultaneamente frouxo e autoritário.
Com o País sendo chacoalhado pelo avanço da pandemia do novo coronavírus, o que tem deixado boa parte da população preocupada em razão da falta de estrutura do Estado para com a doença em caso de agravamento do quadro, esperava-se que o presidente da República tivesse pulso para mandar uma mensagem convincente à sociedade sobre os perigos da Covid-19.
Infectado pelo vírus do revanchismo ideológico, Bolsonaro usou a pandemia para mais uma vez atacar o Congresso Nacional e falar exclusivamente à sua horda de apoiadores, quando na verdade seu papel deveria ser de pacificar os ânimos e dar uma palavra tranquilizadora em relação a tudo o que vem acontecendo no Brasil e no planeta.
Após ter decidido suspender a saída de cruzeiros a partir de portos brasileiros, o governo mudou a rota e, debaixo de pressão das companhias de navegação, voltou a autorizar as viagens marítimas de passageiros a partir da costa nacional.
O recuo foi do Ministério da Saúde, que inicialmente havia decidido proibir os cruzeiros como forma de conter a propagação do novo coronavírus, que nas próximas semanas poderá colocar o País no ranking das nações mais infectadas pela Covid-19.
A pasta também recuou na recomendação para que todo viajante internacional que chegar permaneça em isolamento domiciliar por até sete dias, a partir da data de desembarque, mesmo que não apresente sintomas da Covid-19.
As mudanças na posição do governo Bolsonaro foram publicadas neste sábado (14) em uma atualização do boletim epidemiológico do dia anterior sobre o novo coronavírus. A nova versão do texto exclui o isolamento voluntário a viajantes e a medida que suspenderia pontos de parada de cruzeiros marítimos.
No documento, o Ministério da Saúde afirma que a mudança na decisão se deve a várias sugestões recebidas sobre o tema, muitas delas de estados e municípios.
Contudo, a suspensão das rotas de navios turísticos foi contestada pelo Ministério do Turismo e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que passaram a fazer pressão para que o governo desistisse da medida.
Integrantes do governo Bolsonaro defenderam que a suspensão de cruzeiros marítimos no litoral brasileiro provocaria danos ao setor do turismo, comprometendo ainda mais a já combalida a atividade econômica nacional.
No momento em que sabe-se que o sistema público de saúde não tem estrutura capaz de enfrentar uma explosão no número de casos de coronavírus – o que deve acontecer em breve –, alguns integrantes do governo se preocupam com determinados setores e com os inevitáveis danos à economia, como se a equipe econômica comandada por Paulo Guedes fosse um ajuntamento de gênios.