Bolsonaro afirma que Covid-19 “não é isso tudo que dizem”, Guedes anuncia R$ 147 bi para enfrentar vírus

 
Presidente da República, Jair Bolsonaro não escreve, sentado, o que diz em pé. Essa máxima tornou-se marca registrada de um governo populista e autoritário que tenta a todo custo atentar contra a democracia e o Estado de Direito.

Na última quinta-feira (12), durante transmissão ao vive em rede social, Bolsonaro apareceu ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, usando máscara cirúrgica, dando a entender que necessitava da proteção por causa do contato que mante com pessoas que testaram positivo para o novo coronavírus. Na ocasião, em mais uma de suas conhecidas blasfêmias, o presidente pediu aos seus descontrolados apoiadores que cancelassem os protestos marcados para domingo (15). Quem conhece minimamente Bolsonaro sabia que aquele pedido era um incentivo para que as manifestações ocorressem, como de fato ocorreram, mesmo que esvaziadas.

Contrariando a imagem daquela pessoa que apareceu no vídeo usando máscara cirúrgica, Bolsonaro desrespeitou o isolamento sanitário que lhe foi imposto pelos médicos – também pelo ministro da Saúde – e juntou-se aos manifestantes que protestavam na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Diante do Palácio do Planalto, o presidente da República cumprimentou apoiadores e tirou selfies a mais não poder, como se o coronavírus fosse um devaneio qualquer.

Mesmo depois das críticas de que foi alvo por ter participado do protesto, na capital federal, Bolsonaro afirmou, nesta segunda-feira (16), que a pandemia do novo coronavírus “não é isso tudo que dizem”. Para quem não se espanta diante da teoria do “terraplanismo”, cultivada por uma banda dos bolsonaristas, minimizar a pandemia da Covid-19 é o que se pode chamar de “café pequeno”, o que não deixa de ser caso de internação psiquiátrica.

 
Se realmente a pandemia do novo coronavírus fosse desprezível, como sugere Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não precisaria anunciar R$ 147,3 bilhões em medidas emergenciais para socorrer determinados setores da economia e grupos de cidadãos em situação de maior vulnerabilidade, além de conter a alta do desemprego. Do total anunciado por Guedes, R$ 83,4 bilhões devem ser destinados aos mais pobres e/ou idosos.

Ao anunciar as medidas, Paulo Guedes ressaltou que o sistema econômico reage a esse tipo de pandemia da mesma maneira como o corpo humano. “Igualzinho esse coronavírus, afeta mais as fatias mais vulneráveis. Os mais idosos são mais vulneráveis porque a defesa imunológica é mais baixa”, disse.

“A economia é igual. Uma economia resiliente, com a parte de fundamentos fiscais no lugar, estrutura firma, reformas estruturantes, ela mantém a resiliência e fura essa onda. O Brasil está começando a reaceleração econômica, aí vem uma turbulência e ele tem condições de ultrapassar isso. São três, quatro meses,” disse o ministro.

Que Paulo Guedes está com os dias contados no Ministério da Economia não é novidade para quem acompanha o cotidiano do governo Bolsonaro, mas, mesmo assim, o ministro e o presidente da República poderiam ao menos combinar antecipadamente os discursos, como forma de evitar novos vexames. Considerando que o Brasil já não desperta confiança nos investidores internacionais, com esse bamboleio discursivo em meio à crise do novo coronavírus a situação tende a piorar sobremaneira.