É extremamente difícil saber o que é mais banal no Brasil: o governo de Jair Bolsonaro ou a forma como o presidente da República vem tratando o avanço da pandemia do novo coronavírus, que fez a primeira vítima fatal no País, mais precisamente na cidade de São Paulo.
No momento que a nação precisa de uma voz balizadora diante de uma epidemia que ainda é desconhecida em termos científicos e carrega poder de destruição assustador, Bolsonaro abusa da banalização discursiva para alimentar a guerra política e alimentar o discurso de ódio que embala a patuleia que o apoia.
Não é de hoje que o UCHO.INFO afirma que Jair Bolsonaro é incompetente e desprovido de estofo para ocupar cargo de tamanha relevância e responsabilidade, assim como chafurda no cocho da delinquência intelectual. Tratar a pandemia do novo coronavírus com desdém, como vem fazendo Bolsonaro, é motivo de pedido de impeachment. Na verdade, a parcela pensante e de bem da sociedade deveria não se intimidar pelas ameaças dos bolsonaristas, sempre ignaros e truculentos, e sair às ruas para exigir a renúncia de um governante populista e irresponsável.
Bolsonaro, ciente de que seu governo é um monumental fracasso que sobrevive à sombra de factoides, tenta terceiras a culpa pelo insucesso aos governadores quando afirma que há por parte dos gestores estaduais histeria no rastro da adoção de medidas duras para conter o avanço do coronavírus.
A irresponsabilidade de Bolsonaro é tamanha, que ultrapassou as fronteiras nacionais e ganhou o noticiário internacional, onde o Brasil é alvo de chistes e deboches dos mais distintos. Não pode estar no pleno exercício das faculdades mentais alguém que vai ao delírio com ônibus, metrôs e trens lotados, quando o País está sendo lentamente devorado por uma doença altamente contagiosa e que mata a população vulnerável em termos de saúde.
O presidente da República é um especialista em vitimização, por isso recorre a essa estratégia chicaneira todas as vezes em que se vê em situação de dificuldade. Apesar de afirmar que a economia começava a dar sinais de recuperação, o que não é verdade, Bolsonaro agora aponta o indicador para os governadores, acusando-os antecipadamente por uma débâcle econômica decorrente das medidas contra o coronavírus.
Bolsonaro, é importante salientar, está isolado, já que governadores, o ministro da Saúde, o Senado Federal, a Câmara dos Deputados e o STF decidiram deixar o presidente da República falando sozinho quando o assunto é proteger a população contra a Covid-19. Jair Bolsonaro é uma voz solitária que sequer tem o respeito da maioria dos generais palacianos, que, como antecipou o UCHO.INFO, tentam levar esse “cadáver político” até 31 de dezembro próximo para que, na sequência, Hamilton Mourão assuma o poder sem a necessidade de nova eleição.
Além disso, no Palácio do Planalto cresce a percepção no núcleo duro do governo em relação à tentativa de Bolsonaro de forçar um pedido de impeachment, o que criaria uma nova frente para se transformar em vítima e entoar o cântico rastaquera do golpismo.
A economia brasileira deverá registrar números decepcionantes em 2020 em razão não apenas da Covid-19, mas também por conta da crise institucional que tomou conta do País em função do clima de beligerância fomentado pelo próprio presidente da República. É chegada a hora de cobrar a saída de Bolsonaro, mesmo sabendo que o País não suporta um novo solavanco político dessa magnitude. É melhor enfrentar mais um tropeço político do que mergulhar no abismo do retrocesso e do autoritarismo.