Na política, em especial na brasileira, inexistem coincidências. Tudo é previamente pensado e estudado com o objetivo de, vilipendiando os direitos da população, atender aos interessas dos privilegiados. Em alguns casos, até mesmo as patacoadas são planejadas para desviar o foco de alguma situação de dificuldade.
Foi exatamente isso que aconteceu no preambulo do incidente diplomático com a China, que surgiu a partir manifestação irresponsável do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que culpou o governo de Pequim pela pandemia do novo coronavírus. Por razões óbvias a ideia não surgiu do nada, mas da confluência de uma série de situações chuleadas pela estupidez do radicalismo direitista.
Com Jair Bolsonaro na berlinda por conta dos panelaços Brasil afora e da postura condenável diante da crise provocada pela pandemia, a solução encontrada pela banda podre palaciana para salvar o presidente da República foi criar um factoide capaz de desviar a atenção da imprensa, antes focada na súbita elevação do descontentamento da opinião pública com o chefe do Executivo.
Se por um lado o ataque de Eduardo Bolsonaro aos chineses supostamente surtiu o efeito desejado pelo Palácio do Planalto, por outro o núcleo duro do governo não esperava que a reação de Pequim pudesse ser tão rápida, contundente e ameaçadora. Embaixador da China em Brasília, Yang Wanming foi à rede social para rebater o filho do presidente brasileiro, sugerindo que o parlamentar teria contraído um “vírus mental” durante recente viagem a Miami.
Diante do estrago diplomático, até porque a China é o mais importante parceiro comercial do Brasil, além de ser o maior investidor direito no País, coube ao vice Hamilton Mourão abordar o assunto com a imprensa nacional, como se estivesse fazendo um pedido de desculpas oficioso a Pequim, pois Jair Bolsonaro não teve coragem para tanto. Afinal, ele é refém dos filhos.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, cumpriu papel institucional e desculpou-se com o embaixador chinês em nome de todos os parlamentares, assim como fez o vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia.
Como prega a sabedoria popular, o fruto não cai distante da árvore. De tal modo, Eduardo Bolsonaro é tão covarde quanto o pai, que ao ser alcançado pelos efeitos colaterais de seus destampatórios desconversa ou arruma desculpas esfarrapadas.
À sombra da covardia que embala o clã, Eduardo Bolsonaro, que nesse episódio fez o papel de “moleque de recado” do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, tentou terceirizar a responsabilidade pelo imbróglio que colocou em risco as relações entre Brasília e Pequim.
“Jamais ofendi o povo chinês, tal interpretação é totalmente descabida”, escreveu o filho do presidente da República. “Esclareço que compartilhei postagem que critica a atuação do governo chinês na prevenção da pandemia, principalmente no compartilhamento de informações que teriam sido úteis na prevenção em escala mundial.”
Em suma, Eduardo Bolsonaro, além de covarde, enfrenta problemas de interpretação de texto e tem problemas cognitivos, pois é inadmissível que alguém que pleiteava o cargo de embaixador em Washington compartilha em rede social texto com ataques ao mais importante parceiro comercial do País.
Não obstante, o filho do presidente esconde-se debaixo do manto da dissimulação ao recorrer à legislação para justificar um erro crasso e injustificável. “Estimular o debate é função do parlamentar brasileiro, tendo por isso a prerrogativa da imunidade parlamentar (art. 53, CF) como garantia constitucional, para que deputados possam exercer tal direito”, escreveu Eduardo Bolsonaro no Twitter.
Sem recuar e sequer esboçar disposição para um mea culpa, pois afinal esse não é o costume familiar, Eduardo manteve o tom do confronto com a diplomacia chinesa em sua estapafúrdia justificativa.
“Assim, mesmo vivendo numa democracia com ampla liberdade de imprensa e expressão, não identifiquei qualquer desconstrução dos meus argumentos por parte do embaixador chinês no Brasil. Este apenas demonstrou irritação com meu post e direcionou erroneamente suas energias no compartilhamento de posts ofensivos à honra de minha família —este sim um fato grave e desproporcional. Porém, enxergo como positivo que tais fatos tenham trazido à tona o debate de como governos podem (e devem) tentar evitar pandemias.”
Definitivamente, a família Bolsonaro é caso para estudo por parte de especialistas na mente humana, já que até o último final de semana o presidente da República insistia em afirmar que a pandemia do novo coronavírus é invencionice da imprensa e fruto da histeria dos governadores. Sendo assim, Eduardo Bolsonaro não tem moral para sugerir como governos devem tratar pandemias.
Fato é que a situação agravou-se com o passar das horas e os pedidos de desculpas apresentados até o momento não surtiram efeito. Irritado com mais um problema criado pelo “03”, mas envolto em silêncio obsequioso, Bolsonaro avalia conversar por telefone com o presidente da China, Xi Jinping, para encerrar o assunto. Em outras palavras, terá de admitir ao homologo chinês que o filho é um parvo conhecido que acredita ser gênio.