Bolsonaro cita ameaça à normalidade democrática para impor seus devaneios sobre o coronavírus

 
Desde a corrida presidencial de 2018 o UCHO.INFO afirma que Jair Bolsonaro é desprovido de preparo e estofo para ocupar cargo de tanta responsabilidade e relevância como a Presidência da República. A súcia bolsonarista, que aposta na radicalização das medidas como solução para os muitos problemas do País, não se importam com as questões democráticas e o Estado de Direito, desde que prevaleça as vontades de um desqualificado com mandato.]

Um dia depois do seu pronunciamento à nação, duramente criticado pelos mais diversos setores da sociedade, Bolsonaro voltou a falar sobre a pandemia do novo coronavírus na manha desta quarta-feira (25), em sua costumeira parada na portaria do Palácio da Alvorada.

O presidente afirmou aos jornalistas que o governo poderá adotar o “isolamento vertical” como medida para conter o avanço do cornavírus, algo que é contestado por especialistas em epidemiologia e infectologia de todo o planeta. A proposta de Bolsonaro é manter em isolamento social apenas os idosos e as pessoas com doenças pré-existentes.

“Conversei por alto com Mandetta hoje e vamos definir essa situação. Tem que ser, não tem outra alternativa. A orientação vai ser o [isolamento] vertical daqui pra frente. Vou conversar com ele e tomar uma decisão. Não escreva que já decidi, não. Vou conversar com o Mandetta sobre essa orientação”, disse o irresponsável presidente da República.

Aos profissionais da imprensa, Bolsonaro ratificou o conteúdo do pronunciamento e disse esperar que o Brasil retome a normalidade e “encare o vírus até como se fosse uma guerra, mas em situação de igualdade, em pé”.

“Se nós nos acovardamos, formos para o discurso fácil, todo mundo em casa, vai ser o caos, ninguém vai produzir mais nada, desemprego tá aí, vai acabar o que tem na geladeira”, declarou o presidente.

Beira a loucura falar em “discurso fácil” alguém que aborda de maneira trôpega uma pandemia que já infectou mais de 400 mil pessoas e deixou mais de 18 mil mortos em todo o planeta. Priorizar a economia em detrimento da saúde da população é querer que o Estado fuja às responsabilidades. Se o governo brasileiro fizesse parte do que outros governantes mundo afora estão a fazer para impulsionar a economia de seus respectivos países, por certo o presidente não estaria agarrado a esse discurso fácil e covarde.

 
Populista barato e sempre flertando com um cenário de caos que atenta contra a democracia, até porque esse é seu cardápio do cotidiano, Jair Bolsoanro foi além em seu delírio matinal e acenou com a possibilidade de o País sair da normalidade democrática caso prevaleçam as medidas atuais para conter o coronavírus.

“O que precisa ser feito: botar esse povo para trabalhar, preservar os idosos, preservar aqueles que têm problemas de saúde, mais nada além disso. Caso contrário, o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil. Todos nós pagaremos um preço que levará anos para ser pago, se é que Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem. Ninguém sabe o que pode acontecer no Brasil. Da minha parte, eu me exponho porque o que eu quero levar para a população é uma mensagem de paz, tranquilidade, serenidade”, afirmou.

Bolsonaro, que, como sugeriu o renomado jurista Miguel Reale Júnior, precisa ter a sanidade mental avaliada por uma junta médica, pode vociferar quantos absurdos quiser, só não tem o direito de transformar em verdade suprema as barbaridades que prega. Defender a reabertura das escolas e o retorno dos alunos às aulas vai na contramão do que fizeram até o momento 156 países. De acordo com a Unesco, ao menos 1,4 bilhão de crianças e jovens estão sem frequentar temporariamente a escola.

Sobre a proposta de segmentação do isolamento social, a medida será duramente criticada, já que a Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou nota, na noite de terça-feira, rebatendo as absurdas e irresponsáveis declarações de Bolsonaro e defendendo o isolamento social como medida eficaz para conter o avanço da pandemia do vírus causador da Covid-19.

Na nota, o presidente da entidade médica, Clóvis Arns da Cunha, não economizou palavras para expressar preocupação dos infectologistas com o pronunciamento do presidente da República: “Neste difícil momento da pandemia de Covid-19 em todo o mundo e no Brasil, trouxe-nos preocupação o pronunciamento oficial do presidente da República Jair Bolsonaro, ao ser contra o fechamento de escolas e ao se referir a essa nova doença infecciosa como ‘um resfriadinho’. Tais mensagens podem dar a falsa impressão à população que as medidas de contenção social são inadequadas e que a Covid-19 é semelhante ao resfriado comum, esta sim uma doença com baixa letalidade. É também temerário dizer que as cerca de 800 mortes diárias que estão ocorrendo na Itália, realmente a maioria entre idosos, seja relacionada apenas ao clima frio do inverno europeu. A pandemia é grave, pois até hoje já foram registrados mais de 420 mil casos confirmados no mundo e quase 19 mil óbitos, sendo 46 no Brasil”.

“Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e todos os demais profissionais de saúde estão trabalhando arduamente nos hospitais e unidades de saúde em todo o País. A epidemia é dinâmica, assim como devem ser as medidas para minimizar sua disseminação. Ficar em casa é a resposta mais adequada para a maioria das cidades brasileiras neste momento, principalmente as mais populosas”, conclui a nota da Sociedade Brasileira de Infectologia.

No pronunciamento, Bolsonaro voltou a falar em histeria, mas é preciso reconhecer que no cenário o único histérico é o presidente da República, que tenta sair das cordas para retomar seu projeto de reeleição. Ou seja, como diz a sabedoria popular, “farinha pouca, meu pirão primeiro”.