Tivesse brio e hombridade, ministro da Saúde teria pedido demissão após pronunciamento de Bolsonaro

 
No Juramento de Hipócrates, prestado pelo médico no momento da diplomação, consta em um dos trechos o que segue: “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza à perda”.

No novo “Juramento Médico”, resultado da atualização Declaração de Genebra, divulgada pela Associação Mundial de Medicina no final de 2017, mas que manteve a essência do Juramento de Hipócrates, consta o que segue:

– “Promoverei a honra e as nobres tradições da profissão médica.”

– “Compartilharei meu conhecimento médico em benefício do paciente e o avanço da saúde.”

– “Não utilizarei meu conhecimento médico para violar direitos humanos e liberdades civis, mesmo sob ameaça.”

Tomando por base os trechos dos juramentos acima mencionados, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, médico de formação e que no momento lidera a “guerra” contra o novo coronavírus, deveria pedir demissão do cargo, em caráter irrevogável, de preferência durante entrevista coletiva, caso honrasse de fato o ofício que abraçou e tivesse doses parcas de brio.

Mandetta não pode aceitar de forma contemplativa as declarações patéticas do presidente Jair Bolsonaro acerca da pandemia, pois avança sobre a seara penal aquele que tenta politizar um cenário de caos em que a saúde da população corre seríssimos riscos.

 
Jair Bolsonaro, preocupado apenas com seu projeto de reeleição, não com a saúde da população, foi dragado pelo torvelinho do desespero porque ter consciência que a débâcle economia a surgir na esteira da crise do novo coronavírus tem chances monumentais de inviabilizar seu plano político.

Não faz muito tempo, Bolsonaro comparou a epidemia do coronavírus à gravidez, afirmando que em algum momento o filho há de nascer. Naquele momento, em respeito aos obstetras e aos profissionais de enfermagem que participam de partos, o ministro da Saúde deveria ter deixado o cargo. Não o fez por falta de coragem ou, então, por interesse político.

Na sequência, em mais um dos seus conhecidos desvarios, o presidente classificou a pandemia do vírus causador da Covid-19 como “gripezinha”. Rotular de “gripezinha” uma pandemia que já infectou mais de 400 mil pessoas ao redor do planeta e deixou mais de 18 mil mortos, por enquanto, é desrespeitar todos os profissionais de saúde que estão na linha de frente, como verdadeiros heróis, correndo riscos para salvar a vida da população. O ministro deveria ter passado uma carraspana silenciosa em Bolsonaro por meio de um pedido de demissão em rede nacional.

No pronunciamento à nação que fez na noite de terça-feira (24), em rede nacional de rádio e televisão, Bolsonaro abusou da irresponsabilidade e da delinquência intelectual ao novamente tratar com deboche e comparações esdruxulas uma pandemia que é considerada extremamente grave e preocupante pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Poucas horas após nova entrevista coletiva do Ministério da Saúde para atualizar os dados sobre o coronavírus no País, Bolsonaro contrariou os especialistas em epidemiologia e pediu o fim do isolamento social e a reabertura dos estabelecimentos comerciais em várias cidades brasileiras. O presidente mais uma vez criticou a imprensa, atacou governadores e prefeitos e voltou a falar novamente em “histeria” e “gripezinha”.

Depois do pronunciamento tosco e irresponsável do presidente, o ministro Luiz Henrique Mandetta deveria ter apresentado carta de demissão, já que sua permanência no governo perdeu a razão de ser. Se não o fez até o momento é porque falta-lhe hombridade ou sobram motivos para continuar ministro. A prevalecer a segunda hipótese, o melhor que Mandetta tem a fazer é rasgar o diploma de médico.