Vírus perde, vírus ganha

(*) Carlos Brickmann

O presidente americano Donald Trump informou que, após 15 dias de quarentena, o país vai se abrir e a população voltar a trabalhar. “Não estou pensando em meses”, disse Trump. “Nosso país não foi erguido para fechar. Logo estará aberto aos negócios. Se perguntarmos aos médicos, eles fecharão tudo, o mundo inteiro, e isso pode criar um problema maior que o de hoje”. Trump disse que a baixa letalidade do coronavírus, a seu ver, que seria de um terço da prevista, influenciou sua decisão. Enfim, ir em frente antes mesmo que haja um decréscimo significativo na força da pandemia.

Horas antes da declaração de Trump, a porta-voz da Organização Mundial da Saúde, Margaret Harris, disse que 85% de todos os novos casos surgem nos Estados Unidos e na Europa, e que “rapidamente a situação americana está se deteriorando, com 40% de todos os novos casos”. Para a OMS, os EUA podem se transformar no novo centro da pandemia no mundo. “Há um surto enorme e está aumentando”, completou. “Estamos vendo uma progressão muito rápida no número de casos dos Estados Unidos”.

Enfim, os EUA estão à beira da normalização, como sugere Trump, ou de enorme avanço do coronavírus? A OMS tem os números; e Trump, como presidente, provavelmente tem conhecimento de fatos ainda desconhecidos por nós. Foi ele que antecipou o uso de um remédio contra a malária para o coronavírus, e o remédio está sendo testado.

É torcer, rezar, aguardar.

O vai-vem

Preocupado com o vai-vem do presidente Bolsonaro, que culminou com a edição de medida provisória que permite zerar salários por quatro meses e sua retirada logo em seguida? Continue a preocupar-se: Bolsonaro está cada vez mais voltado para sua candidatura à reeleição, oscilando de acordo com as pesquisas e as redes sociais. E sabe que seu desempenho no caso atual não foi bem aceito: Mandetta, o ministro da Saúde, tem maior aprovação que os governadores, e os governadores vão melhor que o próprio Bolsonaro.

Pela análise das pesquisas Ibope e Datafolha, que saíram nesta semana, o presidente continua forte, mas se restringe a pouco mais de um terço do eleitorado. É uma parcela considerável, mas bem menor do que já foi.

Os números

No caso coronavírus (pesquisa do Datafolha), a atuação de Bolsonaro é aprovada por 35% e reprovada por 33%. Os governadores tiveram 54% de ótimo e bom, em média. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, teve 55%. A participação de Bolsonaro no ato do dia 15 foi rejeitada por 68%.

O fato

Bolsonaro chamou a pandemia de “gripinha”, rompeu a quarentena para abraçar participantes da passeata do dia 15, mas o ministro Mandetta não mudou de posição: manteve-se firme na tese da quarentena. E, ignorando o ódio presidencial a alguns governadores, é com eles e com o Congresso que vem articulando a estrutura da saúde pública para enfrentar o pico da doença. Mandetta e Bolsonaro são amigos há muitos anos, mas há quem aposte que os elogios públicos ao trabalho do ministro foram o fim de uma bela amizade.

Eleições

O senador paulista Major Olímpio estuda a apresentação de uma proposta de emenda constitucional para suspender as eleições municipais deste ano e realizá-las em conjunto com as eleições de 2022. Desta forma, haveria, de quatro em quatro anos, eleições gerais para todos os cargos, do Executivo e Legislativo. A causa próxima seria a dificuldade de realizar as eleições deste ano, devido à pandemia. E há, desde sempre, grupos favoráveis a realizar eleições em conjunto, por economia e para evitar que o país pense o tempo todo em termos eleitorais. Há ainda quem pense em fazer a eleição neste ano, por mais difícil que seja organizá-la (por exemplo, Rodrigo Maia), ou adiá-la para o ano que vem.

De qualquer forma, é complicado mexer no tema: é necessária a emenda constitucional, deve-se decidir quem ocupa o cargo a partir do fim do mandato dos atuais prefeitos e vereadores – ou, o que pode provocar longa discussão constitucional, a prorrogação dos mandatos. Mas o tema está em discussão. E tem logo de ser resolvido. Outubro está aí.

Boa isca

Um dos argumentos mais fortes que o pessoal da unificação eleitoral deve usar é, além da dificuldade de organizar a votação deste ano, a possibilidade de utilizar os R$ 2 bilhões que seriam gastos nas campanhas, mais o custo da eleição, e entregar tudo à Saúde, para a luta contra os coronavírus.

Jon-Y-Saad

A história de que a Rede Bandeirantes tem sócio chinês é besteira. Tem parceria de conteúdo com uma TV chinesa (e também com a TV do New York Times). Para quem gosta de fofocas falsas, mais uma: Lula teria ido visitar o papa para pegar dinheiro no Banco do Vaticano e comprar a Bandeirantes, para enfrentar os evangélicos, hoje com Bolsonaro. Que tal?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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