Regente Naomi Munakata morre em São Paulo, aos 64 anos, vítima da Covid-19

 
Uma das mais importantes regentes brasileiras, Naomi Munakata morreu nesta quinta-feira (26), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus. Internada desde o dia 16 de março no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista, por causa de sintomas de insuficiência respiratória grave, no último dia 19 a maestrina testou positivo para a Covid-19.

Ao longo da internação, Munakata apresentou melhora, mas na madrugada desta quinta-feira uma surpreendente piora evoluiu para um cenário de infecção generalizada. A maestrina faleceu por volta do meio-dia. De acordo com os médicos, Naomi apresentava comorbidades que resultaram na evolução desfavorável do seu quadro clínico.

Natural de Hiroshima, no Japão, Naomi Munakata mudou-se para o Brasil com a família quando tinha dois anos de idade. Ao chegar na cidade de São Paulo, seu pai, o regente Motoi Munakata, que montou um coral com os passageiros do navio que trouxe a família até o Brasil, decidiu seguir com o trabalho. Foi dessa maneira que surgiu o primeiro coral no Brasil.

Em entrevista, Naomi Munakata revelou que, quando criança, na maioria das vezes brincava perto do grupo musical comandado pelo pai. Aos quatro anos de idade, por força da inevitável influência paterna, iniciou os estudos de piano. Não demorou para ingressar no coral do pai. “Ele obrigava todos os filhos a estudar piano e, após o jantar, tínhamos a opção de lavar a louça ou ir tocar. Eu preferia tocar”, contou a maestrina.

Depois, acompanhou coro em igrejas, estudou violino e harpa e graduou-se em composição e regência na Faculdade de Música do Instituto Musical de São Paulo. Premiada como melhor regente coral pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Naomi Munakata continuou seus estudos na Universidade de Tóquio,por meio de bolsa concedida pelo governo japonês. “Sempre gostei mais de trabalhar com coro do que com orquestra, é a minha linguagem”, afirmou a maestrina.

Naomi Munakata alcançou o reconhecimento internacional como regente titular do Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que esteve sob batuta por duas décadas (1995-2015). A maestrina dirigiu também a Escola Municipal de Música de São Paulo e o Coral Jovem do Estado.

 
Repercussão

Em nota, a Osesp agradeceu a “contribuição inestimável dada por Naomi à música coral brasileira”. “Com pesar, a Fundação Osesp recebe a notícia que Naomi Munakata, Regente Honorária do Coro da Osesp desde 2014 e que foi titular do grupo de 1995 a 2013, faleceu hoje por complicações em decorrência da Covid-19. Seremos eternamente gratos pela contribuição inestimável dada por Naomi à música coral brasileira e, especialmente, à nossa instituição. Que o tempo conforte os corações de todos nós, demais amigos e familiares”, destaca a nota da orquestra paulista.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) lamentou a morte da maestrina. “Lamento profundamente a morte da maestrina Naomi Munakata, do Coral Paulistano Mário de Andrade, do Theatro Municipal de São Paulo. Uma das mais importantes regentes brasileiras, Naomi foi também regente titular do Coro da Osesp durante duas décadas, com reconhecimento internacional. Era um orgulho para a Prefeitura de São Paulo tê-la como colaboradora”, escreveu Covas.

A direção do Theatro Municipal de São Paulo também divulgou nota lamentando a morte de Munakata. “A família do Theatro Municipal está órfã. Perdemos no dia de hoje, aos 64 anos, a maestrina titular do Coral Paulistano Naomi Munakata. Os mais sinceros sentimentos aos amigos e familiares dessa grande artista que abrilhantou nosso palco nos últimos anos. Sentiremos sua falta Naomi”

A direção e os médicos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz também divulgaram nota de pesar pelo falecimento da maestrina. “O Hospital Alemão Oswaldo Cruz lamenta o falecimento desta que foi um dos grandes nomes da música erudita brasileira. A direção, equipe médica e assistencial do hospital se solidarizam com os familiares e amigos neste momento de grande dor”, ressalta trecho do comunicado.