Decisão do STF proibindo campanhas “desinformativas” contribuiu para Bolsonaro naufragar no mar da política

 
Jair Bolsonaro vinha navegando nas águas do totalitarismo, certo de que em algum momento atracaria a nau do obscurantismo em porto seguro. Desafiou o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), atentou contra a democracia e o Estado de Direito, ignorou a ciência, continuou apostando no discurso de ódio como forma de manter a cizânia da sociedade e incentivou o desrespeito ao isolamento social em meio ao avanço da pandemia do novo coronavírus. Em outras palavras, um irresponsável com todas as letras.

Com o objetivo de frear a movimentação insana do governo e do próprio presidente da República, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, proibiu o Executivo de produzir e veicular qualquer material de comunicação ou publicitário que incentive a violação do isolamento social ou de quarentena, retomando as atividades.

Barroso, que acolheu pedido da Rede Sustentabilidade, destacou em sua decisão que a situação é “gravíssima” e “não há qualquer dúvida de que a infecção por Covid-19 representa uma ameaça à saúde e à vida da população”.

“Em momento em que a Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde, as mais diversas entidades médicas se manifestam pela necessidade de distanciamento social, uma propaganda do governo incita a população ao inverso. Trata-se, ademais, de uma campanha ‘desinformativa’: se o poder público chama os cidadãos da “Pátria Amada” a voltar ao trabalho, a medida sinaliza que não há uma grave ameaça para a saúde da população e leva cada cidadão a tomar decisões firmadas em bases inverídicas acerca das suas reais condições de segurança e de saúde”, destacou o ministro da Corte.

 
A decisão do ministro Luís Roberto Barroso foi mais uma derrota para alguém que passou a contemplar o próprio isolamento político crescendo na mesma velocidade com que avança o vírus causador da Covid-19. Na verdade, Bolsonaro percebeu que seu plano, típico de tiranete de república bananeira, começava a derreter. Com isso, agigantou-se a possibilidade de ficar sozinho no picadeiro da ignorância.

Aconselhado por assessores moderados a modular o discurso na frequência do bom-senso, o presidente da República percebeu que não tinha saída, caso quisesse manter-se no cargo. Afinal, cresceu de forma assustadora nos últimos dias, nos subterrâneos do poder, os conchavos para que Bolsonaro deixasse o posto.

Sem ter mostrado a que veio, o presidente, que continua no palanque eleitoral, tentou sair do isolamento político a partir da estratégia de ressuscitar sua sempre colérica horda de apoiadores. Bolsonaro radicalizou o discurso contra o isolamento social, divulgou a malfada campanha publicitária a favor da retomada das atividades econômicas em todo o País e no último domingo (29) fez um passeio por setores de Brasília e regiões do Distrito Federal, em clara provocação aos que defendem a manutenção das medidas recomendadas pela ciência para enfrentar o novo coronavírus, devidamente adotadas por governadores e prefeitos.

O estrago da investida foi tamanho, que até mesmo ministros mais próximos decidiram abandonar Bolsonaro em sua epopeia contra o isolamento social e o novo coronavírus. É cedo para afirmar que Bolsonaro assimilou a ideia de que o isolamento é, por enquanto, a melhor arma contra o vírus da Covid-19, até porque sua personalidade é oscilante e o presidente não escreve, sentado, o que fala em pé.

O brasileiro de bem que se prepare, já que o atleta (sic) imune a tudo, o super-herói dos bolsonaristas, o invencível, a partir de agora recorrerá à vitimização como forma de se salvar. Resumindo, nessa guerra contra o óbvio, Bolsonaro saiu menor do que entrou. E por conta disso pode tornar-se presa fácil da classe política.