Quando o UCHO.INFO afirmou, em matéria publicada recentemente, que o presidente Jair Bolsonaro aposta na incrementação do caos como forma de abrir caminho para eventual decretação de Estado de Sítio, não fizemos uso de figura de retórica. Valemo-nos, sim, da experiência de décadas do editor deste portal como jornalista político, que conhece não apenas os meandros do poder, mas a personalidade doentia do atual presidente da República.
Não foi preciso muito tempo para que nossa afirmação fosse confirmada pelo próprio Bolsonaro, que em entrevista à rádio Jovem Pan, na quinta-feira (2), deixou evidente seu desejo de radicalizar e atentar contra a democracia e o Estado de Direito.
Não é novidade que Bolsonaro é um histriônico que faz uso da delinquência intelectual para estar em evidência, em que pese o fato de colocar a população em perigo constante. Na entrevista, o presidente, que cada vez mais sente-se incomodado com o protagonismo de Luiz Henrique Mandetta como coordenador da guerra contra o novo coronavírus, disse que ao ministro da Saúde falta humildade.
“O Mandetta já sabe que a gente está se bicando algum tempo. Eu não pretendo demitir o ministro no meio da guerra. Agora, ele é uma pessoa que em algum momento extrapolou. Eu sempre respeitei todos os ministros, o Mandetta também. Ele montou o ministério de acordo com sua vontade. Eu espero que ele dê conta do recado”, disse Bolsonaro.
Inábil em termos políticos, ignaro nos mais distintos assuntos e desprovido da mais rasa dose de capacidade para liderar uma nação, Jair Bolsonaro é uma figura vocacionada para tirania, que, como tal, não aceita ser contrariado. Além disso, tem séria dificuldade para lidar com o sucesso alheio, algo que deveria capitalizar politicamente em proveito próprio, mas não o faz por incompetência.
No momento em que a crise do coronavírus ainda não explodiu no Brasil, assim como ocorreu em diversos países ao redor do planeta, Bolsonaro ataca o ministro da Saúde de maneira torpe apenas porque não é consultado sobre as medidas adotadas para conter o avanço da Covid-19, o que tem evitado, pelo menos por enquanto, o congestionamento do sistema público de saúde.
“O Mandetta quer fazer muito a vontade dele. Pode ser que ele esteja certo. Pode ser. Mas está faltando um pouco mais de humildade para ele, para conduzir o Brasil neste momento difícil que encontramos e que precisamos dele para vencer essa batalha”, afirmou irresponsável e inconformado presidente da República.
Ora, se o Mandetta faz apenas “a vontade dele” e o presidente é dono da verdade suprema do universo, a não demissão do ministro da Saúde é mais uma prova da frouxidão de Jair Bolsonaro, que continua ouvindo os filhos e os integrantes do chamado “gabinete do ódio”. Afinal, apostar no caos e na radicalização é o que restou ao presidente e seu alucinado clã.
É fato que as ações que a crise do novo coronavírus cobra do governo federal exigirão, mais adiante, a elevação de impostos como forma de compensar os necessários gastos para manter o sistema de saúde e a economia. Isso faz com que Bolsonaro mergulhe cada vez mais no torvelinho do desespero, pois além de ser incompetente como governante, aumentar impostos derreterá seu projeto de reeleição. O que explica sua insistência em transferir a responsabilidade pela crise para governadores e prefeitos.
No melhor estilo tiranete de republiqueta bananeira, o presidente ameaça o País com um decreto para garantir a retomada da atividade econômica e a volta da circulação de pessoas, mesmo sabendo que o coronavírus continua deixando milhares de mortos pelo caminho.
“Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona, na base da lei”, disse Bolsonaro, que em uma só frase mostra ser um ignaro em termos de legislação. Até porque, para o Supremo Tribunal Federal (STF) suspender um decreto absurdo e criminoso como o sugerido não precisa mais de uma hora.
Sabedor de que a extensa maioria da população está ao lado do ministro da Saúde e seu isolamento político é algo notório e crescente, o presidente da República tenta “incendiar” a opinião pública com suas declarações absurdas.
“Eu estou esperando o povo pedir mais, porque o que eu tenho de base de apoio são alguns parlamentares. Tudo bem, não é maioria, mas tenho o povo do nosso lado. Eu só posso tomar certas decisões com o povo estando comigo”, afirmou.
Se os ministros do governo estão contra o presidente e a favor das medidas adotadas por Luiz Henrique Mandetta, todas baseadas na ciência e em recomendações de especialistas e autoridades internacionais da saúde, somente alguém tomado pelo transtorno é capaz de fazer declarações dessa natureza. Já passou da hora de o brasileiro de bem dar um basta, porque, segundo consta, o Palácio do Planalto não é hospício.