Contrariando a ciência, os especialistas e a opinião pública brasileira, que na extensa maioria é a favor do isolamento social como forma de enfrentar o avanço do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro, que nas últimas horas fez circular em Brasília informações sobre uma possível demissão do ministro da Saúde, decidiu exonerar Luiz Henrique Mandetta.
O ato oficial de exoneração de Mandetta está sendo preparado neste momento no Palácio do Planalto, sendo que a publicação em edição extra do Diário Oficial da União acontecerá após a reunião convocada pelo presidente para as 17 horas com todos os ministros do governo e dirigentes de órgãos oficiais.
Como antecipou o UCHO.INFO a interlocutores, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, deve substituir Mandetta no cargo. Terra, que defende o isolamento vertical e o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, algo que ainda não tem comprovação científica, almoçou nesta segunda-feira (6) com o presidente da República e os quatro ministros palacianos: Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
A permanência de Luiz Henrique Mandetta à frente do Ministério da Saúde tornou-se insustentável nos últimos dias, principalmente em razão dos ataques do presidente à forma como o ministro vem conduzindo a “guerra” o novo coronavírus.
Há dias, Mandetta foi acusado por Bolsonaro de falta de humildade, mas no domingo (5) uma possível demissão ficou mais próxima da realidade quando o presidente da República afirmou que não teria “medo nem pavor de usar a caneta” com algumas pessoas do governo que “de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos”. A declaração foi um recado inominado a Mandetta, que disse “estar dormindo” quando questionado sobre o tema.
Isolado politicamente, Bolsonaro sabe que errou de forma fragorosa ao adotar um discurso contrário ao que mostram a ciência e os especialistas em relação ao novo coronavírus, mas sua arrogância, mesclada à devastadora ignorância, o impede de admitir o fracasso, em especial porque há um ferrenho embate com governadores no escopo do enfrentamento da Covid-19.
Confirmada a demissão do ministro da Saúde, não causará surpresa se Luiz Henrique Mandetta desembarcar em São Paulo para assumir a pasta da Saúde, já que há muito o governo João Dória Júnior vem se estranhando com o atual secretário, José Henrique German.
Dória, que eventualmente concorrerá à Presidência da República em 2022, entende que German tem discurso pouco enfático ao defender as medidas do governo paulista para enfrentar a crise do novo coronavírus, ao mesmo tempo em que não deixará escapar a oportunidade de criar mais uma frente de embate com Bolsonaro.
É importante ressaltar que qualquer medida adotada pelo governo Bolsonaro contra o isolamento social será derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Congresso, da mesma maneira que a União não pode ingerir nas questões estaduais. Ou seja, Jair Bolsonaro está seguindo o “gabinete do ódio” para manter sua autoestima (sic) em níveis confortáveis.