Enquanto defende o fim do isolamento e o uso da cloroquina, Bolsonaro avalia demissão de Mandetta

 
Na manhã desta quarta-feira (8), conforme grafado na agenda presidencial, Jair Bolsonaro e Luiz Henrique Mandetta reuniram-se durante trinta minutos no Palácio do Planalto. Após o encontro, o ministro da Saúde disse à imprensa que a conversa com o chefe do Executivo foi tranquila, o que não combina com a personalidade de Bolsonaro, mesmo diante de um pão besuntado com leite condensado.

Cada vez mais isolado em termos políticos, Bolsonaro acabou desmoralizado perante a opinião pública ao ameaçar demitir Mandetta e, horas depois, recuar na esteira da pressão exercida pelos generais palacianos e pelos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A repercussão negativa desse gesto nas redes sociais foi devastadora, exigindo do “gabinete do ódio” a arregimentação da milícia digital para atacar os críticos do governo e aqueles que se contrapõem a Bolsonaro.

A estratégia não funcionou e o presidente da República, como noticiou o UCHO.INFO, ainda não desistiu de exonerar o ministro da Saúde, algo que possivelmente fará para demonstrar poder, levando ao êxtase a patuleia que o aplaude de forma insana. Além disso, Bolsonaro poderá demitir mais três ministros, talvez os que têm declarado publicamente apoio ao titular da Saúde. Caso decida mostrar o “cartão vermelho” para Mandetta, Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia), o presidente precisa se preparar para enfrentar vertiginosa queda na popularidade. E não há governo que resista sem apoio popular.

No encontro com o ministro da Saúde, Bolsonaro disse que a economia irá pelos ares se nenhuma mudança for feita no plano de enfrentamento ao novo coronavírus. O presidente da República não está preocupado em salvar vidas e preservar empregos, como vem anunciando, mas manter em condições mínimas seu plano de reeleição. Até porque, até 2022 a economia não terá se recuperado a ponto de garantir-lhe um novo mandato.

 
Bolsonaro tem insistido em dois temas polêmicos e absurdos: a flexibilização do isolamento social e o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. O primeiro tema é extremamente delicado, mesmo que em cidade com menor adensamento populacional, pois o governo não sabe ao certo quantos testes para o novo coronavírus foram realizados até o momento Sem essa informação e os respectivos resultados é impossível fazer qualquer planejamento para flexibilizar o isolamento.

No que tange à adoção do isolamento vertical, tese defendida por Bolsonaro, trata-se de uma bomba-relógio com hora marcada para explodir. Algumas cidades brasileiras já começam a registrar o colapso do sistema de saúde em virtude do aumento exponencial de casos. Para piorar, muitos brasileiros, à sombra das declarações do presidente, têm furado o isolamento, colocando em risco toda a população.

Em relação à hidroxicloroquina, fazer uso político do tema é no mínimo irresponsabilidade, mesmo que as milícias bolsonaristas usem as redes sociais para atacar os que preferem a cautela. Não há, por enquanto, qualquer comprovação científica da eficácia do medicamento no combate ao novo coronavírus. O que existe são evidências de experimentos bem-sucedidos, mas que não configuram prova definitiva sobre a eficácia da droga. Além disso, os efeitos colaterais da cloroquina são drásticos e exigem que seu uso se dê em ambiente hospitalar em virtude de emergências. Bolsonaro insiste em defender a cloroquina como se o medicamento fosse a tábua de salvação de um governo movido pela fanfarronice e pelo populismo barato.