Cientistas que assessoram o governo da Alemanha em meio à pandemia do novo coronavírus afirmam que medidas de isolamento social e de fechamento de estabelecimentos só poderão ser relaxadas se houver máscaras respiratórias suficientes para a população.
Em entrevista à revista “Der Spiegel”, um especialista membro da Leopoldina, Academia Nacional de Ciências da Alemanha, instituição de referência no país, disse que a universalização do uso de máscaras faciais, que cubram boca e nariz, é um requisito para o retorno à normalidade.
“A máscara deve se tornar um novo padrão social”, disse o cientista. “Somente com proteção sanitária suficiente será possível voltar à vida normal. [A máscara] tem que ser a nova moda.”
Portanto, a reabertura de lojas e, gradualmente, de instituições de ensino depende em grande parte de quantas máscaras estarão disponíveis para a população, algo que é difícil prever em meio a problemas na importação desses produtos.
Tais recomendações estão presentes num relatório da Leopoldina, antecipado pela Spiegel, mas que será apresentado oficialmente na próxima segunda-feira (13).
O governo da chanceler alemã Angela Merkel informou que o relatório da academia terá um papel importante no debate sobre quando e como o país poderá voltar à normalidade, após controlada a pandemia do coronavírus Sars-CoV-2.
Merkel e os governadores estaduais se reunirão por videoconferência na próxima quarta-feira para discutir os próximos passos e a possibilidade de um relaxamento nas medidas restritivas no país, que é um dos mais atingidos da Europa em número de infecções.
De acordo com a “Der Spiegel”, os cientistas da Leopoldina também devem recomendar a extensão da realização de testes na Alemanha, bem como a reabertura gradual de escolas.
Segundo os especialistas, os primeiros estudantes poderiam retornar às salas de aula já nas próximas semanas – mas a medida deveria ser limitada aos alunos mais velhos, que pela idade são mais confiáveis de que usarão máscaras e manterão a distância mínima necessária. “Crianças de jardim de infância não podem fazer isso”, disse o cientista entrevistado pela revista.
Ao contrário de outros países europeus, como a Itália e a França, a Alemanha não decretou um confinamento rigoroso em nível nacional, mas impôs uma série de medidas que acabaram por reduzir a circulação de pessoas.
As escolas permanecem fechadas, bem como a maioria das lojas. Restaurantes só podem vender refeições para viagem. Aglomerações com mais de duas pessoas estão proibidas, e os infratores podem sofrer sanções. Alguns estados mais atingidos, como a Baviera, impuseram medidas mais severas, como toque de recolher.
Na última quinta-feira (9), o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, admitiu que as grandes aglomerações de pessoas podem continuar proibidas “por meses”.
Uma pesquisa divulgada na semana passada apontou que 72% dos alemães estão satisfeitos com a forma que o governo vem administrando a crise. Entre os eleitores do partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), o percentual chegou a 88%. O levantamento ainda apontou que 93% dos alemães julgam que as medidas de distanciamento social são apropriadas.
Segundo contagem da Universidade Johns Hopkins, a Alemanha soma mais de 122 mil casos confirmados de covid-19 e 2,7 mil mortes, uma mortalidade muito abaixo da de outros países europeus. O Reino Unido, por exemplo, tem 74 mil infecções e quase 9 mil mortos. (Com agências internacionais)