Em clara demonstração de sabujice, chefe da Secretaria de Governo diz que “noticiário é só caixão, corpo”

 
Presidente da República, Jair Bolsonaro participou no último domingo (19), em Brasília, de ato contra a democracia e o Estado de Direito, mas após carraspana do generalato palaciano adotou um discurso embusteiro e de encomenda que não convence quem conhece as entranhas do poder central. Os militares mostraram-se incomodados com os pedidos dos ensandecidos manifestantes por um novo AI-5 e pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, como se isso fosse possível na democracia, mas nenhum general assumiu esse desconforto publicamente.

Bolsonaro, que, como sempre afirmamos, lança repetidos balões de ensaio no afã de testar os limites dos Poderes constituídos, ressurgiu em cena a reboque de um bom-mocismo peçonhento e embalado pela enganação. Nesta quarta-feira (22), ao deixar o Palácio da Alvorada, o presidente da República mudou o script e decidiu tratar com botinadas os apoiadores que diariamente se aglomeram à porta da residência presidencial para salamaleques de ocasião.

Essa mudança de comportamento de Bolsonaro não convence, já que sua essência totalitarista permanece intacta, assim como não convence o modelo de entrevista coletiva adotado pelo novo ministro da Saúde, Nelson Teich, que finge ignorar os devaneios do presidente da República em relação à pandemia do novo coronavírus e o necessário isolamento social.

O cenário do novo coronavírus no escopo do governo federal é de tal forma desconexo, que enquanto Bolsonaro espera que o isolamento social termine ainda nesta semana, Teich alega que é preciso fazer testes em massa para compreender a Covid-19 no Brasil e na sequência planejar as ações de combate à doença provocada pelo vírus SARS CoV-2

Nesta quarta-feira, na primeira entrevista coletiva concedida após seis dias no cargo, o ministro da Saúde foi precedido por outros integrantes do primeiro escalão do governo, sendo que o destaque ficou para o chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.

 
Em sua participação, Ramos destacou a importância do trabalho da imprensa, como se estivesse amenizando as críticas de Bolsonaro ao setor, mas pediu aos jornalistas para que noticiem fatos positivos sobre a pandemia do novo coronavírus. Entre os pontos considerados positivos, o ministro ressaltou que é importante informar à sociedade o número de pessoas que se recuperaram da Covid-19.

“Noticiário é só caixão, corpo. Não está ajudando. Tem muita notícia boa”, disse Ramos. O ministro criticou a “maciça divulgação de fatos negativos”, não sem antes afirmar que “tem tanta coisa positiva acontecendo”. Se 45.757 casos confirmados do novo coronavírus e 2.906 mortes –165 nas últimas 24 horas – nada representam, que o ministro diga o que de fato é relevante em termos de informação.

Luiz Eduardo Ramos, assim como qualquer cidadão, tem o direito à livre manifestação do pensamento, mas não se pode minimizar o número de óbitos em decorrência da pandemia, principalmente se considerado o fato de que o presidente da República, em recente declaração, afirmou que é preciso ter coragem para enfrentar o coronavírus e classificou a Covid-19 como “gripezinha” e “resfriadinho”.

Se o chefe da Secretaria de Governo é dado às sabujices, este portal só tem a lamentar, pois é inaceitável que um general de Exército, supostamente preparado, curve-se diante de um presidente da República irresponsável, paranoico e esquizofrênico. Além disso, Bolsonaro insiste em politizar a pandemia, como se a vida do ser humano nada valesse, apenas para pavimentar o caminho que leva à corrida presidencial de 2022.

O ministro da Secretaria de Governo disse que o governo tem dialogado “24/7” com os governadores, algo que deveria ser noticiado pela imprensa, que, na opinião de Ramos, prefere se dedicar às sandices de Bolsonaro. Ora, se o presidente da República não consegue livrar-se de seu enfadonho e conhecido bestiário, é chegada a hora de os outros Poderes entrarem em ação, pois crimes de responsabilidade já foram cometidos aos bolhões.