Moro teria pedido demissão após ameaça de troca no comando da PF; Bolsonaro tenta reverter

 
É tenso o clima no Palácio do Planalto por conta de um suposto pedido de demissão do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), que não gostou da decisão do presidente da República de substituir o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Mais cedo, Valeixo reuniu-se por videoconferência com os 27 superintendentes da PF e, alegando cansaço, anunciou que deixará o comando da corporação em breve. O diretor-geral da PF disse aos superintendentes que sua decisão não tem qualquer relação com pressões políticas exercias pelo governo por causa de investigações que eventualmente incomodam a família Bolsonaro.

O presidente da República informou Moro que a mudança no comando da PF deve acontecer nos próximos dias e, ato contínuo, o ministro teria apresentado pedido de demissão do cargo.

Por mais que Maurício Valeixo alegue que a decisão de deixar o comando da PF não tem relação com pressões políticas, é evidente que a “velha política”, que Bolsonaro tanto condena em seus falaciosos discursos, está a prevalecer.

 
Não é de hoje que Jair Bolsonaro tenta mudar o comando da PF como forma de controlar a corporação e fazer valer suas vontades e interesses. Alguém precisa avisar ao presidente que a PF é uma polícia de Estado, não de governo. A postura de Bolsonaro mostra de maneira clara que o autoritarismo corre solto nos corredores do Palácio do Planalto.

Surpreendido com o pedido de demissão de Sérgio Moro, o presidente da República tenta reverter o episódio, que, se consumado, provocará enorme desgaste ao governo e ao próprio Bolsonaro.

Moro, que em nome de um projeto político aceitou abandonar a magistratura para assumir o Ministério da Justiça, com a promessa de ter “carta branca” e mais adiante ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), poderá acabar à beira do caminho. Terá de aguardar até 2022 para colocar em marcha seu plano de chegar à Presidência.

Por outro lado, se Jair Bolsonaro ceder ao ministro acabará desmoralizado. É importante ressaltar que o presidente tem deflagrado processos de “fritura política” na direção de assessores que lhe fazem sombra. A primeira vítima foi Luiz Henrique Mandetta, que deixou a pasta da Saúde recentemente. Os próximos, ao que parece, serão Paulo Guedes e Sérgio Moro.