Antes de completar dois meses à frente da Secretaria Especial da Cultura, a atriz Regina Duarte já experimenta o calor advindo do processo de fritura que virou rotina no desgoverno de Jair Bolsonaro. Integrante do chamado grupo de risco da Covid-19, Regina foi desaconselhada a viajar entre São Paulo e Brasília, por isso decidiu trabalhar remotamente na capital paulista.
Pressionada pela classe artística, que cobra a liberação de verbas oficiais para o setor, Regina Duarte tem tratado os artistas com desdém, marca registrada do governo que integra. Se por um lado a atriz é pressionada pelo setor da cultura, por outro começa a enfrentar o fogo amigo disparado pelo presidente da República, que vem incentivando sua “fritura”, processo que em breve estará nas redes sociais.
Na noite desta terça-feira (28), ao chegar ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro reclamou do distanciamento de Regina Duarte e afirmou que a atriz enfrenta problemas para comandar a Secretaria da Cultura.
“Infelizmente a Regina está trabalhando pela internet ali e eu quero que ela esteja mais próxima. Uma excelente pessoa, um bom quadro, é também uma secretaria que era ministério, muita gente de esquerda, pregando ideologia de gênero, essas coisas todas que a sociedade, a massa da população não admite e ela tem dificuldade nesse sentido”, disse o presidente.
Contudo, o presidente negou insatisfação com o trabalho de Regina Duarte. “Quem falou que ela sai? Você acredita na imprensa? Eu não acredito”, disse, ao ser questionado sobre a situação da atriz. “Eu queria que ela estivesse em Brasília para conversar mais com ela. Só isso. Mais nada. Eu sou também apaixonado pela namoradinha do Brasil.”
Bolsonaro é um oportunista da pior espécie que usa as pessoas de acordo com a própria conveniência. Na esteira do escândalo protagonizado por Roberto Alvim, então secretário de Cultura, que publicou vídeo com conteúdo nazista, e acabou exonerado, Bolsonaro precisava agradar a opinião pública com um factoide. E sobrou para Regina Duarte fazer esse papel pífio e degradante.
Enquanto adota publicamente um discurso dual em relação a Regina Duarte, nos bastidores o presidente da República não apenas tem reclamado da atuação da secretária da Cultura, mas dá liberdade para que pessoas próximas façam críticas à atriz. Aliás, Bolsonaro disse a esses mesmos aliados que espera que parta da própria Regina Duarte a decisão de deixar o governo.
No contraponto, a assessoria da Secretaria da Cultura afirma que “Regina Duarte segue trabalhando, reunindo-se com a equipe, representantes do setor cultural, determinada a fazer seu melhor pela cultura, sempre alinhada com o presidente Jair Bolsonaro”.