Bolsonaro nomeia indicado por Ramagem para o comando da Polícia Federal; posse foi “relâmpago”

 
O presidente Jair Bolsonaro nomeou nesta segunda-feira (4) o delegado Rolando Alexandre de Souza como novo diretor-geral da Polícia Federal (PF). Publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), a nomeação ocorre após o Supremo Tribunal Federal (STF) suspender a indicação de Alexandre Ramagem para o cargo. Menos de uma hora após a publicação no DOU, Rolando foi empossado como diretor-geral da PF, em cerimônia reservada no Palácio do Planalto.

Ramagem, amigo da família do presidente, havia sido oficialmente indicado para o cargo na semana passada, para substituir Maurício Valeixo, cuja exoneração levou à saída do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ao deixar o cargo, Moro acusou o presidente de interferência política na PF.

Rolando de Souza ocupava até então o cargo de secretário de Planejamento e Gestão da Abin. Ele foi indicado ao posto máximo da PF pelo próprio Ramagem, que após ter seu nome barrado voltou a ocupar o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A nomeação seria uma solução provisória, até Bolsonaro encontrar uma forma de emplacar Alexandre Ramagem no cargo. Mesmo assim, o novo diretor-geral da PF deverá aceitar indicações de Ramagem para compor a cúpula da corporação.

 
A indicação de Ramagem foi suspensa na última quarta-feira pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que atendeu a um pedido do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Na ação, a legenda apontou que a nomeação revelava “flagrante abuso de poder, na forma de desvio de finalidade”, e mencionou acusações do ex-ministro Moro contra o presidente. Moraes listou os argumentos do partido e destacou que a PF não é um “órgão de inteligência da Presidência”.

Diretor da Abin, Ramagem é amigo dos filhos do presidente, especialmente do vereador Carlos Bolsonaro. A própria nomeação para comandar a Abin foi atribuída à proximidade com Carlos.

Com a decisão do STF, Bolsonaro tornou sem efeito o decreto que nomeou Ramagem como diretor-geral da PF. Apesar disso, o presidente disse que não desistiu de colocar o amigo da família no cargo.

A escolha para a PF de figura tão próxima ao clã presidencial havia provocado críticas no meio político, judiciário e policial. Partidos já haviam avisado que fariam ofensiva judicial para barrar a nomeação, acusando o presidente de agir para blindar aliados e familiares. Até mesmo integrantes do chamado núcleo duro do governo alertaram o presidente para o potencial desgaste de uma enxurrada de ações na Justiça contra a nomeação de Ramagem.

O presidente não vinha escondendo sua insatisfação com a PF e especialmente com Valeixo, homem de confiança de Moro, que atuou no Paraná com o então juiz durante a Operação Lava-Jato. A tensão já havia começado no ano passado, mas se intensificou nas últimas semanas quando a PF passou a investigar deputados bolsonaristas envolvidos na convocação de manifestações anticonstitucionais e figuras suspeitas de coordenar uma rede de fake news, entre elas o vereador Carlos Bolsonaro.