Tão logo chegou ao Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro passou a entoar o discurso matreiro da “velha política” como forma de demonizar o parlamento e acusar, sem provas, deputados e senadores de exigir cargos e benesses em troca de apoio no Congresso, o famoso ‘toma lá, dá cá”.
Como se Bolsonaro fosse um representante da “nova política”, parte da opinião pública confiou na retórica do presidente, que agora, no afã de escapar de processos de impeachment e blindar os filhos em CPIs, se alia ao que há de pior no Parlamento nacional. Como sempre afirma o UCHO.INFO, é quase impossível fazer política no Brasil sem generosas doses de maldade e perversidade, mas aceitar o jogo sujo do “Centrão” (Progressistas, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade e PTB) para conseguir apoio é impor ao País o chamado “mais do mesmo”.
Bolsonaro foi eleito na esteira da promessa de combate à corrupção, mas no momento do desespero alia-se a partidos que abrigam acusados e suspeitos de corrupção de todos os matizes. Em 19 de abril, no fatídico protesto em frente ao quartel do Comando-Geral do Exército, quando apoiadores pediram intervenção militar, um novo AI-5 e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, o próprio Bolsonaro disse aos berros que não estava negociando coisa alguma e que era chegada a hora do basta.
Contrariando as próprias palavras, proferidas no polêmico ato antidemocrático, Bolsonaro nomeou nesta quarta-feira (6) um indicado pelo Centrão para comandar o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Trata-se de Fernando Marcondes de Araújo Leão, cujo nome foi levado ao presidente pelo líder do Progressistas na Câmara dos Deputados, Arthur Lira, um dos caciques do “Centrão”.
Fernando Leão, que receberá salário bruto de R$ 16.944,90 para comandar o DNOCS, é filiado ao Avante e até a nomeação ocupava o cargo de gerente-geral do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) em Pernambuco. Antes de filiar-se ao Avante, Leão foi filiado durante 32 anos ao PTB, cujo presidente nacional da legenda, Roberto Jefferson, é o mais novo entusiasta de Bolsonaro.
Como contrapartida, o “Centrão”, que conta com aproximadamente 200 deputados federais, se comprometeu a barrar pedidos de impeachment contra Jair Bolsonaro e as chamadas e temidas “pautas-bomba”, além de impedir investigações no âmbito da CPMI das Fake News, que já chegou a dois dos filhos do presidente da República.
Além da direção do DNOCS, o “Centrão” negocia com Bolsonaro cargos em diversos órgãos do governo federal, como Banco do Nordeste, Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e secretarias do Ministério de Desenvolvimento Regional, entre outros.
Para quem até recentemente criticava a “velha política”, Jair Bolsonaro não apenas revela a verdadeira face, mas mostra-se um velhaco como todos os que tornaram-se alvo do seu discurso peçonhento e revanchista. É chegada a hora de a parcela de bem dos brasileiros ir às ruas e cobrar a saída de Bolsonaro, antes que seja tarde demais.
