Demissão de Teich reforça o totalitarismo de Bolsonaro e mostra um governo perdido em meio à pandemia

 
A demissão, a pedido, do agora ex-ministro Nelson Teich (Saúde), que comandou a pasta por quatro semanas, mostra que o governo do presidente Jair Bolsonaro avança cada vez mais na direção do autoritarismo, assim como evidencia estar perdido em meio a várias crises, em especial a gerada pela pandemia do novo coronavírus.

Teich, que substituiu Luiz Henrique Mandetta no cargo, classificou como inaceitável o nível de submissão a Bolsonaro, situação que se repete com todos os integrantes da equipe de governo. A decisão de Nelson Teich acontece no momento em que o número de casos confirmados de Covid-19 e de mortes em decorrência da doença cresce de forma assustadora em todo o País, sendo que algumas das principias capitais adotaram bloqueio total nas respectivas regiões metropolitanas como forma de conter o avanço do novo coronavírus.

Na noite de quinta-feira (14), em transmissão ao vivo pela internet, Bolsonaro disse que haveria mudança no protocolo da hidoroxicloroquina, medicamento que ainda não tem eficácia comprovada cientificamente no tratamento da Covid-19. Ao contrário, a cloroquina – droga utilizada no tratamento de artrite reumatoide, malária e lúpus – produz efeitos colaterais graves e que podem levar à morte. Por conta disso, o uso de hidroxicloroquina contra o novo coronavírus só é recomendado com prescrição médica e ambiente hospitalar, pois a droga provoca arritmia cardíaca e pode levar a óbito.

A saída de Teich do Ministério da Saúde era esperada desde a última terça-feira (13), quando o presidente da República, sem consultá-lo, incluiu no rol de atividades essenciais academias de ginástica, salões de beleza e barbearias. O agora ex-ministro soube pela imprensa da decisão de Bolsonaro e enfrentou dificuldade para responder às perguntas dos jornalistas. Além disso, a elaboração de um plano que não prioriza a flexibilização do isolamento social irritou Bolsonaro.

 
Na quinta-feira (14), quando o País registrou oficialmente 844 mortos pela Covid-19, o cancelamento da entrevista coletiva da Saúde, que diariamente atualiza os dados sobre a doença, foi um indicativo de que Nelson Teich estava de saída do cargo.

Ao anunciar sua demissão em entrevista na sede do Ministério da Saúde, Teich disse: “a vida é feita de escolhas, e hoje eu decidi sair”. Médico oncologista, Nelson Teich afirmou a pessoas próximas que “tem um nome a zelar”. Essa declaração, que confirma a desorientação que marca o governo de Jair Bolsonaro, é fruto da insistência do presidente em relação à cloroquina.

“A vida é feita de escolhas, e hoje escolhi sair. Dei o melhor de mim nos dias em que estive aqui nesse período. Não é uma coisa simples estar à frente de um ministério como esse”, declarou Teich.

Nos bastidores, logo após o anúncio da demissão de Teich, o presidente disse a assessores que o próximo ministro da Saúde terá de “falar a sua língua”. Isso demonstra que o próximo ministro da Saúde será um mero fantoche presidencial ou, então, durará pouco tempo no cargo.

A demissão de Nelson Teich confirma o que o UCHO.INFO vem afirmando há tempo: Bolsonaro quer impor suas vontades, não importando as vidas que estão sendo ceifadas pela Covid-19. Além disso, o presidente reforça sua irresponsabilidade genocida ao fazer política em meio à pandemia do novo coronavírus, quando o momento exige respeito à ciência.