Enquanto ignora as recomendações da ciência contra o coronavírus, Bolsonaro espanta investidores

 
Por algum motivo ainda desconhecido, o presidente Jair Bolsonaro pode sofrer de transtorno de personalidade, tamanha é sua agressividade e disposição para contrariar aquilo que a ciência aponta como caminho mais adequado para combater aa pandemia do novo coronavírus.

Sempre pronto para causar polêmica, seja qual for, o que revela um perfil marcado por histrionismo, impulsividade e intolerância, Bolsonaro prefere ir contra o consenso científico, colocando a vida do brasileiro à beira do precipício. Só assim consegue destaque no noticiário, mesmo que à sombra da bizarrice e da estupidez.

Preocupado apenas com seu projeto de reeleição, motivo pelo qual insiste na retomada da economia o quanto antes, o presidente da República tem tratado a crise da Covid-19 com irresponsabilidade e insensatez, coquetel que faz do Brasil destino pouco atrativo para investimentos, nacionais ou internacionais.

Em meio à queda de braços que trava com governadores e prefeitos que adotaram medidas restritivas para conter o avanço da pandemia, Bolsonaro tem conseguido animar sua torcida, algo que na opinião do presidente é suficiente para garantir sua reeleição em 2022. É importante ressaltar que se nada for feito na economia para salvar os brasileiros afetados pela crise do novo coronavírus, Bolsonaro terá seríssimos problemas na próxima corrida presidencial, pois diante das urnas eleitorais o bolso sempre fala mais alto.

No momento em que a extensa maioria dos países corre atrás de recursos para retomar a atividade econômica, Jair Bolsonaro consegue a proeza de fazer tudo o que um governante minimamente responsável não faz: transformar o próprio país em um celeiro de desconfiança quando o assunto é investimentos.

Enquanto defende medidas utópicas para enfrentar a Covid-19, a falta de uma política clara e concreta por parte do governo destinada ao combate à pandemia faz com que investidores redobrem a cautela em relação a investimentos no Brasil. Isso explica em parte a alta do dólar na última semana, quando empresas e investidores decidiram enviar recursos ao exterior.

 
A pandemia do novo coronavírus colocou uma enorme lupa sobre a tragédia social que impera no País, algo que deveria ser combatido de forma contínua pelo Estado, como um todo, mas que segue sempre à margem das prioridades oficiais. De nada adianta o auxílio emergencial se nada for feito depois da pandemia em prol dos mais necessitados, que, até agora, passam de 50 milhões de pessoas, ou seja, um quarto da população brasileira. De nada adianta falar em programas sociais, como o Bolsa Família, se o Estado não oferece ao beneficiário uma porta de saída.

Além disso, a realidade salarial no Brasil é uma bomba-relógio sempre prestes a explodir. Beira a irresponsabilidade falar em retomada da economia com dois terços da população recebendo menos de dois salários mínimos por mês. E quem conhece a realidade de preços no Brasil sabe que esse montante não garante vida minimamente digna a ninguém.

Bolsonaro erra ao apostar todas as fichas em uma política de confronto com governadores e prefeitos, tendo a pandemia de Covid-19 como pano de fundo. Sem um plano definido e coeso de combate ao novo coronavírus, o custo para a economia será muito maior do que vem alardeando o presidente quando defende a reabertura da economia e o isolamento vertical. Assim como o restante do planeta, o Brasil está em guerra contra um inimigo invisível e desconhecido, que elimina o populismo barato com rapidez e destreza.

Como se não bastasse, o presidente tem participado de manifestações antidemocráticas, muitas das quais pedem o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), como se o Estado de Direito fosse letra morta. O presidente deveria ao menos imaginar que suas incursões contra a democracia provocam preocupante crise institucional e geram insegurança jurídica, o que afasta investidores, que sempre priorizam a estabilidade política no momento de decidir o destino dos investimentos.

Caso o Brasil tivesse adotado o bloqueio total das atividades (“lockdown”, em inglês) logo após o surgimento do primeiro caso oficial de Covid-19, agra o País estaria dando os primeiros passos de uma retomada econômica, respeitados alguns procedimentos para evitar uma nova onda da doença.

Nesta segunda-feira (18), o Brasil subiu para o terceiro posto no ranking dos países com mais casos de Covid-19 confirmados: já são 254.220 pessoas infectadas pelo vírus SARS-CoV-2. Considerando que por conta da notificação o número de casos, segundo estudiosos, é pelo menos dez vezes maior, o Brasil tem atualmente mais de 2 milhões de infectados pelo novo coronavírus. Adepto do negacionismo, Bolsonaro prefere defender teorias absurdas, sem ao menos disponibilizar ao sistema público de saúde condições mínimas para enfrentar os efeitos colaterais de sua ignorância. Enfim…