Novo depoimento do ex-superintendente da PF no Rio de Janeiro deixa Bolsonaro em situação de dificuldade

 
Piora com o passar dos dias a situação do presidente Jair Bolsonaro no que se refere ao inquérito, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), que apura suposta interferência política na Polícia Federal, segundo relatou o ex-ministro Sérgio Moro (Justiça) ao anunciar sua demissão durante entrevista coletiva, em Brasília.

Em novo depoimento prestado no escopo do referido inquérito, o ex-superintendente da PF no Rio de Janeiro, delegado Carlos Henrique Oliveira, afirmou aos investigadores ter sido levado a um encontro reservado com Bolsonaro pelo delegado Alexandre Ramagem, que na ocasião já era diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Oliveira revelou que Ramagem lhe disse à época que seria “importante” que ele conhecesse o presidente da República.

Atual número dois da PF, Carlos Henrique Oliveira havia prestou depoimento na última semana, mas solicitou para ser ouvido novamente pela corporação porque gostaria de retificar a informação. No novo depoimento, Oliveira afirmou que o convite para ocupar o cargo de diretor-executivo da PF partiu do próprio Ramagem, em 27 de abril, quando ele se preparava para ocupar a direção-geral da Polícia Federal por indicação de Bolsonaro.

Após a decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF) que barrou a posse de Ramagem como diretor da PF, o novo indicado ao cargo, Rolando Alexandre de Souza, manteve o convite feito anteriormente e oficializou Carlos Henrique Oliveira como segundo nome na hierarquia da corporação.

As informações prestadas por Carlos Henrique Oliveira reforçam o interesse de Bolsonaro na Superintendência da PF do Rio de Janeiro e não deixam dúvidas a respeito da proximidade do presidente da República com Ramagem. Ao ser indicado para assumir o comando da PF no Rio de Janeiro, no segundo semestre de 2019, Carlos Henrique informou aos investigadores que estava em Brasília e foi chamado por Ramagem para o encontro privado com o presidente.

 
“Havia um convite prévio do delegado Alexandre Ramagem para que o depoente comparecesse numa audiência com o presidente Jair Bolsonaro”, relatou no seu depoimento.

De acordo com Oliveira, o então ministro Sérgio Moro e o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foram informados do convite e autorizaram o encontro, mas não participaram da reunião. “A reunião ocorreu no Palácio do Planalto, tendo participado apenas o depoente, o delegado Alexandre Ramagem e o presidente Jair Bolsonaro”, afirmou.

Durante o encontro, segundo relato de Oliveira, o presidente falou sobre sua trajetória política, mas não abordou investigações em andamento na Superintendência do Rio de Janeiro.

“Perguntado se o presidente Jair Bolsonaro sabia que o depoente havia sido indicado para a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, o depoente respondeu que o presidente não disse isso diretamente, mas que isso já era um dado público à época”, declarou Carlos Henrique, que emendou: “Não foi declarado nenhum objetivo específico para a sua audiência com o presidente Jair Bolsonaro; que o delegado Alexandre Ramagem apenas pontuou que seria importante o depoente conhecer o presidente Jair Bolsonaro”.

O novo depoimento do delegado federal Carlos Henrique Oliveira torna ainda mais difícil a situação do presidente da República, que não conseguiu convencer a opinião pública acerca das ameaças feitas a Sérgio Moro durante a reunião ministerial de 22 de abril, quando a tentativa de interferência política na PF ficou clara.