Cloroquina: ao misturar saúde e ideologia, Bolsonaro coloca a saúde da população à beira do precipício

 
Democracia representativa, o Brasil não pode ser arrastado pelo populismo barato e covarde de Jair Bolsonaro, que tenta ludibriar a opinião pública com frases de ocasião, como “o povo no poder”. Reza a Constituição que o poder emana do povo, mas é preciso que cada brasileiro compreenda o sistema representativo que emoldura a política nacional. Sem isso, o País continuará refém de situações absurdas, como a liberação da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com Covid-19 na fase inicial da doença.

No novo protocolo sobre o medicamento, divulgado na quarta-feira (20), o Ministério da Saúde autoriza que a droga seja ministrada a pacientes em situação leve da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, mas ao mesmo tempo afirma que não há até então qualquer evidência científica sobre a eficácia do fármaco no tratamento da Covid-19.

Considerando que a cloroquina, como largamente provado, tem efeitos colaterais graves e que podem levar a óbito, a liberação do medicamento é um ato de irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro, que ordenou ao ministro interino Eduardo Pazuello, da Saúde, a feitura e divulgação do novo protocolo.

Ciente de que a possível liberação do conteúdo da gravação da reunião ministerial, objeto de inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro buscou com o novo protocolo sobre a cloroquina criar uma cortina de fumaça em meio à pandemia, como forma de desviar a atenção para outros temas, em especial nas redes sociais, onde seus apoiadores usam das teorias mais absurdas para defender o uso do medicamento.

Além disso, a acusação feita pelo empresário carioca Paulo Marinho, de que o senador Flávio Bolsonaro soube com antecedência da Operação Furna da Onça, que desvendou o esquema criminoso das “rachadinhas”, o presidente da República se viu obrigado a criar um factoide, prática comum no governo.

 
No momento em que Bolsonaro, mesmo admitindo publicamente que a cloroquina não tem eficácia comprovada contra o novo coronavírus, decide misturar saúde com ideologia, a vida do brasileiro está correndo sério risco. Afinal, a prática da automedicação é comum no Brasil.

O fator ideológico invadiu o terreno da medicina na esteira de declaração torpe e irresponsável do presidente da República: “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína”. O uso de um medicamento, seja qual for, não pode estar atrelado a questões ideológicas, como sugeriu, galhofeiramente, Bolsonaro, que consegue a proeza de fazer piada em meio à tragédia.

O papel do governo – seja através do Ministério da Saúde, seja através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – é garantir a saúde da população, sem qualquer possibilidade de risco ou ameaça. Isso significa que a liberação do uso da cloroquina, da forma como ordenou Bolsonaro, será contestada judicialmente. O presidente já afirmou que o enfrentamento ao coronavírus representa uma “guerra”, por isso é importante usar a mais eficaz de todas as armas, que é o isolamento social, enquanto não surja uma vacina contra a Covid-19.

O uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina só é possível em ambiente hospitalar e com monitoramento contínuo das funções cardíacas, já que o medicamento provoca arritmia e outros efeitos colaterais graves. Segundo apurou o UCHO.INFO, pessoas estão fazendo uso da cloroquina por conta própria, acreditando em um possível milagre, ou ingerindo a droga após uma simples conversa com o médico, sem ao menos realizar exames complementares, além do teste laboratorial.

Há nas redes sociais uma operação capitaneada pelo bolsonarismo para fazer da cloroquina a derradeira tábua de salvação de quem contraiu Covid-19, mas não é dessa maneira que a saúde do cidadão deve ser tratada. Se Bolsonaro quer surgir em cena como mosqueteiro contra o novo coronavírus, que aja com responsabilidade e parcimônia. Até porque, de suas sandices a parcela de bem da sociedade está cansada.