Operação Placebo, da PF, tem como pano de fundo a guerra política entre Jair Bolsonaro e Wilson Witzel

 
Na política, como sempre afirma o UCHO.INFO, inexiste espaço para a inocência e sobre terreno para os mal-intencionados, espécie que pulula em todos os cantos do Estado brasileiro. É importante ressaltar que, deixando de lado o discurso embusteiro acerca de campanhas eleitorais de baixíssimo custo, ninguém despeja verdadeira fortuna em uma candidatura para aceitar de bom grado, caso eleito, o salário correspondente ao cargo. Infelizmente, no Brasil a política se transformou ao longo do tempo em negócio milionário e imundo.

O introito acima serve para ilustrar a Operação Placebo, da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira (26) e que cumpriu mandado de busca e apreensão na residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). Autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a operação tem como objetivo investigar supostas fraudes e eventuais desvios de recursos destinados ao combate à pandemia do novo coronavírus em território fluminense.

Na denúncia encaminhada ao STF, a Procuradoria-Geral da República destaca a existência de provas robustas sobre os desvios de recursos, ao passo que o Tribunal, na decisão, ressalta que há indícios que justificam a operação policial.

Veículo de comunicação independente e sem qualquer vínculo político, partidário ou ideológico, o UCHO.INFO cumpre o deve de lembrar que há uma abissal diferença entre indício e prova. E no campo do Direito Penal, indício não serve como base para condenação. É fato que a Operação Placebo tem como meta investigar os fatos, mas é preciso reconhecer que no Brasil qualquer ação policial dessa natureza se transforma em condenação antecipada. Mesmo que Witzel seja inocente, como ele próprio afirmou, o carimbo de corrupto já cumpriu seu papel e será explorado à exaustão na corrida presidencial de 2022.

Na estrutura governamental é quase impossível o chefe do Executivo ter ciência de tudo o que acontece no seu guarda-chuva hierárquico, mas entendemos que o governo responde, mesmo que indiretamente, pelas transgressões cometidas pelos subordinados. Tomando por base o fato de que Wilson Witzel é ex-juiz federal, portanto sabedor das consequências legais de atos de corrupção, envolver-se em um escândalo como o que vem sendo anunciado é sinal de pouca inteligência.

Ademais, Witzel é inimigo político declarado do presidente Jair Bolsonaro, que desde 2019 tentava interferir na PF, em especial na Superintendência do Rio de Janeiro. Não obstante, o fato de a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada de primeira hora de Bolsonaro, ter antecipado a operação policial coloca a investigação sob suspeita. O que não significa que todos os investigados são inocentes.

 
“Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará. A interferência anunciada pelo presidente da república está devidamente oficializada”, afirmou Wilson Witzel.

É dever das autoridades apurar qualquer irregularidade cometida por agentes públicos, mas é inaceitável o uso da máquina pública para atacar adversários políticos. Caso Bolsonaro tenha usado a PF para “dar o troco” em Wilson Witzel, não restam dúvidas a respeito da obsessão do presidente da República em transformar a PF em polícia de governo, uma espécie de “guarda pretoriana”.

Em nota, o governador do Rio de Janeiro negou qualquer participação no esquema criminoso e afirmou estar à disposição da Justiça para colaborar com a investigação e a elucidação dos fatos. “Não há absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal. Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos. Sigo em alinhamento com a Justiça para que se apure rapidamente os fatos. Não abandonarei meus princípios e muito menos o estado do Rio de Janeiro”, escreveu Witzel.

Wilson Witzel disse que se a PF agisse da mesma maneira no caso do senador Flávio Bolsonaro, o filho do presidente da República a essa altura já estaria preso. “O senador Flávio, com todas as provas que já temos contra ele – dinheiro em espécie depositado em conta corrente, lavagem de dinheiro, bens injustificáveis -, já deveria estar preso”, disse o governador do Rio.

“A PF deveria fazer o seu trabalho com a mesma celeridade que faz aqui no Rio porque o presidente acredita que estou perseguindo a família dele. E ele só tem essa alternativa de me perseguir politicamente”, completou.

Ao declarar que o presidente da República está escandalosamente interferindo na PF, Witzel disse que continuará lutando contra o “fascismo” e a “ditadura de perseguição”.

“Não abaixarei minha cabeça, não desistirei do estado do Rio e continuarei trabalhando para uma democracia melhor, continuarei lutando contra esse fascismo que está se instalando no País, contra essa ditadura de perseguição”, afirmou Wilson Witzel.

Que a “briga” em questão é de gente grande todos sabem, mas em meio à pandemia do novo coronavírus o País deveria estar unido em torno do combate à Covid-19, mas alguns governantes preferem travar uma guerra política visando a próxima eleição presidencial.