Na quinta-feira (28), o Brasil contabilizou 1.156 novas mortes por Covid-19, totalizando 26.788 óbitos desde que o novo coronavírus desembarcou no território nacional. Em apenas 24 horas, o País registrou oficialmente 26.417 novos casos da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. Considerando que a escandalosa subnotificação da doença no Brasil, o número de infectados é pelo menos sete vezes maior do que os 438.238 anunciados oficialmente. Ou seja, o Brasil é o país com o maior número de casos de Covid-19.
Enquanto brasileiros morrem por conta da pandemia de Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro, um negacionista que faz da sua irresponsabilidade genocida uma arma contra a população, sequer se preocupa com as questões relacionadas ao novo coronavírus, pois seu objetivo no momento é criar frentes de conflito com os outros Poderes constituídos, a quem faz ameaças recorrentes, como forma de proteger os filhos e os apoiadores, todos envolvidos em uma epopeia criminosa que tem como leme a produção e disseminação de notícias falsas.
Depois de destilar seu bestiário à porta do Palácio da Alvora, onde diariamente apoiadores se amontoam para incensar um devoto do despotismo, Bolsonaro atacou repetidas vezes o Supremo Tribunal Federal (STF), com direito a ameaças de descumprimento de ordens judiciais e insinuações de que ministros seriam criminosos.
Como se não bastasse, o presidente da República obrigou o ministro da Justiça, André Mendonça, a ser signatário de um habeas corpus em favor de Abraham Weintraub, titular da Educação, e dos apoiadores que foram alvo de operação da Polícia Federal ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo.
Engana-se quem pensa que a sandice oficial parou por aí. À noite, em sua semanal transmissão ao vivo pelas redes sociais, Jair Bolsonaro encontrou tempo dedicar-se ao jogo imundo e rasteiro contra a democracia e o Estado de Direito. Depois de afirmar que os alvos da operação da PF são pessoas de bem, o presidente passou a acenar na direção do procurador-geral da República, Augusto Aras, com uma possível indicação ao Supremo.
Em sua enfadonha “live”, Bolsonaro disse que Aras, que vem sendo pressionado por diversos integrantes do Ministério Público federal (MPF), é um forte candidato para assumir uma eventual terceira vaga no STF. Em novembro próximo, o ministro Celso de Mello, decano da Corte e relator do inquérito que tem na ementa o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, se aposentará compulsoriamente por questões de idade.
Se a aposentadoria de Celso de Mello abre a primeira vaga no Supremo, a segunda será aberta no próximo ano com a saída do também ministro Marco Aurélio Mello, que em julho de 2021 completará 75 anos, idade limite para os magistrados permanecerem na ativa. Ora, a terceira vaga mencionada por Bolsonaro só será aberta em maio de 2023, com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski. Isso significa que Bolsonaro já dá como certa sua reeleição, algo que, com base nas pesquisas de opinião, será extremamente difícil, sem contra os efeitos político-eleitorais da débâcle econômica que começa a despontar no horizonte.
Tirante a aposentadoria compulsória, uma vaga só surge no Supremo com a morte de algum dos ministros ou uma saída inesperada. Em outras palavras, o presidente da República está torcendo para que alguém morra na Suprema Corte para conseguir emplacar Augusto Aras.
A falta de sensibilidade e o desrespeito à vida da população causam repulsa em qualquer cidadão de bem e com massa pensante em pleno funcionamento, pois é inaceitável que o presidente da República, em meio a uma pandemia devastadora, vire as costas ao combate à doença e se preocupe apenas em blindar os filhos, os apoiadores e alguns amigos. Na verdade, qualquer governante minimamente responsável – não é o caso de Bolsonaro – estaria empenhado em salvar vidas, não se dedicando à politicagem que alimenta bandidos com mandato ou que circulam pelo Planalto Central.
O falso bom-mocismo que Bolsonaro usou como bandeira eleitoral derreteu diante dos escândalos envolvendo familiares, apaniguados e apoiadores. De tal modo, a exemplo do que temos afirmado nos últimos meses, é preciso dar um basta ao presidente da República, antes que a democracia brasileira e o Estado de Direito sejam mandados pelos ares por um paranoico que insiste em levar o País na direção do retrocesso e do obscurantismo.