(*) Gisele Leite
Segundo recente levantamento da Universidade de Cambridge com colheita de dados de 154 países, constatou-se que cerca de 57,5% estão descontentes com a democracia.
Aliás, comentam os estudiosos que com esta legitimidade tão enfraquecida, foi possível a Bolsonaro alimentar abertamente seu discurso e seu ódio, e ainda nutrir a edílica nostalgia em relação à ditadura.
O referido levantamento utilizou de conjunto de dados exclusivos de mais de quatro milhões de pessoas, combinando mais de vinte e cinco projetos de pesquisas internacionais desenvolvidos entre 1995 a 2020. Os que se dizem insatisfeitos com a democracia cresceram significativamente em meados dos anos 1990 e fui subindo de 47,9% para o patamar de 57,5%, segundo a pesquisa.
A partir de 2005, deu-se a chamada recessão democrática global, o que aumentou para quase um quinto da população mundial (avançando dezenove pontos percentuais). A ascensão do populis pode ser uma das causas. Afinal, se a confiança na democracia está diminuindo é porque as instituições democráticas têm fracassado em lidar com as principais crises contemporâneas, desde colapsos econômicos até a ameaça de aquecimento global.
O estudo tem um trecho dedicado ao nosso país, que vivenciou em 1985 o retorno ao regime democrático após duas décadas de ditadura civil-militar, mas que a insatisfação em relação à democracia permaneceu em elevados níveis desde então.
A exceção ocorreu apenas na primeira década do século XXI, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2010, pontuou o relatório, que menciona os programas destinados à redução da pobreza generalizada e da desigualdade, ao mesmo tempo que manteve o compromisso de conter a inflação e a dívida pública, além de também atrair investimentos estrangeiros diretos.
Em 2008, parecia que a previsão de General Charles De Gaulle se materializava, pois o “país do futuro” ganhou o direito de realizar a Copa do Mundo da Fifa e, pela primeira vez, a maioria dos brasileiros expressava satisfação com seu sistema político, mas tal contentamento durou até 2014.
(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.
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