Preocupado com a blindagem dos filhos, Bolsonaro desafia a democracia com movimentos golpistas

 
Em matéria anterior, publicada nesta segunda-feira (1), o UCHO.INFO tratou da reação do Palácio do Planalto ao comentário do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal federal (STF), que comparou o atual momento do País à Alemanha nazista. Ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, escalado pela cúpula do governo para reagir, afirmou em rede social que a comparação feita pelo decano do STF é algo ‘inoportuno e infeliz”.

Em que pese o direito de Jair Bolsonaro querer permanecer no poder, não se pode fechar os olhos para o dever do presidente da República de, cumprindo o que prometeu no dia de sua posse, respeitar os demais Poderes constituídos, a democracia e o Estado de Direito.

No tocante a Ramos, o chefe da Secretaria de Governo, que é general da ativa licenciado, não deveria tentar intimidar os Poderes e os contrários a Bolsonaro com o fato de ser um integrante das Forças Armadas, dando a entender que um golpe de Estado pode acontecer a qualquer momento.

Essa ameaça ganhou capítulo extra e desnecessário com a participação do ministro da Defesa, general de Exército Fernando Azevedo e Silva, no sobrevoo de helicóptero que Bolsonaro fez, no domingo (31), na Praça dos Três Poderes, em Brasília, onde acontecia uma manifestação a favor do Governo e do presidente da República, que como sempre pediu o fechamento do Congresso Nacional e do STF.

Ora, se as Forças Armadas não se envolvem em questões governamentais e cumprem o que determina a Carta Magna, como afirma o próprio Azevedo e Silva, o ministro da Defesa deveria ter recusado o convite para participar do voo, que aconteceu com portas abertas, permitindo que Bolsonaro acenasse do ar para seus radicais apoiadores.

 
No momento em que o País começa a enfrentar não apenas o avanço do autoritarismo e uma crise institucional preocupante, os integrantes da cúpula do Governo poderiam ao menos manter a coerência e o bom-senso, aconselhando o presidente da República a maneirar em suas atitudes, caso queira manter-se no cargo e tentar, sem sucesso, blindar os filhos, alvos de investigações.

Contudo, a gota d’água ficou por conta do próprio Bolsonaro, que no domingo, após o helicóptero presidencial pousar nas cercanias da Praça dos Três Poderes, desfilou em frente ao Palácio do Planalto montado em um cavalo da Polícia Militar do Distrito Federal. Com esse gesto, o presidente deu mais um toque fascista à sua investida contra a democracia, já que Benito Mussolini fazia o mesmo na Itália.

Para piorar o que é sabidamente ruim, no domingo, horas após ter participado do protesto antidemocrático, Bolsonaro publicou em sua conta no Facebook vídeo que contém frase atribuída a Mussolini. O vídeo mostra um idoso italiano caminhando pela rua e fazendo um discurso supostamente a favor da liberdade. Em determinado momento, o idoso diz “melhor um dia como leão do que cem anos como ovelha”, frase creditada ao líder fascista.

Ao compartilhar o vídeo na rede social, Bolsonaro afirmou que o discurso do idoso italiano traduz a atual situação do brasileiro. “Em 1 minuto o velho italiano resumiu o que passamos nos dias de hoje”, publicou o presidente da República, em mais uma insinuação golpista.

Diante de todos esses episódios repugnantes, comparar o atual momento do País ao período vivido pela Alemanha e que antecedeu o nazismo não pode ser classificado como “infeliz”, uma vez que a infelicidade tem dado o ar da graça nas manifestações estúpidas e provocativas do próprio Jair Bolsonaro, que se deixa levar pelos filhos e pelos integrantes do chamado “gabinete do ódio”.

Bolsonaro tem traído diuturnamente o compromisso que assumiu ao ser empossado, perante a Constituição, por isso é chegado o momento de dar um basta ao presidente, antes que o Brasil mergulhe de vez nas turvas águas do retrocesso e do obscurantismo.