Luiz Eduardo Ramos diz que comparar o Brasil à Alemanha nazista é inoportuno e pede respeito a Bolsonaro

 
A escalada autoritária do governo de Jair Bolsonaro foi antecipada por este site de notícias muito antes de o presidente tomar posse no cargo. Nossos alertas vêm desde a época da campanha presidencial, quando afirmávamos que em algum momento Bolsonaro daria um “cavalo de pau” na democracia. Esse cenário ficou evidente quando o presidente passou a agir nos bastidores para proteger e blindar familiares e amigos.

Eleito com um discurso marcado pelo falso moralismo, Jair Bolsonaro agora atenta contra a democracia o Estado de Direito e os Poderes constituídos apenas porque sabe que sua permanência no cargo, cada vez mais ameaçada, é a tábua de salvação dos três primeiros filhos, todos na mira de inquéritos e ações penais.

As investidas antidemocráticas de Bolsonaro têm levado os outros Poderes, em especial o Judiciário, a reagir a todo e qualquer manifestação que atente contra a Constituição. No último final de semana, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), reagiu aos seguidos rompantes de Bolsonaro e comparou o atual momento do País ao período que antecedeu à eclosão do nazismo.

“Intervenção militar, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia”, nada mais é “senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar!!!!”, escreveu o decano do STF.

“Guardadas as devidas proporções, o ‘ovo da serpente’, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933) parece estar prestes a eclodir no Brasil. É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar quando Hitler, após eleito pelo voto popular e posteriormente nomeado pelo presidente Paul von Hindenburg como chanceler da Alemanha, não hesitou em romper e em nulificar a progressista, democrática e inovadora Constituição de Weimar, impondo ao país um sistema totalitário de Poder”, completou Celso de Mello.

 
A manifestação do magistrado causou incômodo na cúpula do Palácio do Planalto, que reagiu nesta segunda-feira (1) por meio de postagem do ministro Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, em rede social.

“Comparar o nosso amado Brasil à ‘Alemanha de Hitler’ nazista é algo, no mínimo, inoportuno e infeliz. A Democracia Brasileira não merece isso. Por favor, respeite o Presidente Bolsonaro e tenha mais amor à nossa Pátria!”, escreveu Ramos no Twitter.

O mesmo Luiz Eduardo Ramos, em carta enviada aos colegas de turma da Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN), afirmou: “Sou soldado, discípulo de Caxias! Não sou e nunca fui político!”.

Ora, se Ramos de fato é soldado, não político, como afirmou no texto enviado a contemporâneos de AMAN, é possível concluir que o assessor de Bolsonaro pode ter faltado com a verdade ao escrever aos colegas de academia ou mudou de opinião com espantosa velocidade, pois sua reação às palavras do ministro Celso de Mello é um ato eminentemente político. Até porque, todo soldado que se preza respeita o que prega a Constituição, algo que Bolsonaro ignora o tempo todo.

O cenário que domina o horizonte nacional não é dos melhores a revela uma clara ameaça à democracia. Caso o ministro-chefe da Secretaria de Governo não queira enxergar o óbvio, que assuma seu papel de apoiador de um paranoico que flerta diuturnamente com o retrocesso, mesmo falando aos borbotões em democracia.

Ademais, se Jair Bolsonaro cobra respeito e para tal reivindicação necessita da ajuda de terceiros, que o presidente comece a respeitar a democracia, o Estado de Direito, os Podres da República e as decisões judiciais, preservando o direito de recorrer.