Presidente da Fundação Palmares chama movimento negro de “escória maldita” e Zumbi de “filho da puta”

 
No momento em que o planeta reage ao racismo nos Estados Unidos, que provocou o assassinato por asfixia de George Floyd em Minneapolis, no estado de Minnesota, o brasileiro é surpreendido por uma gravação, divulgada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, em que o presidente da Fundação Cultural Palmares classifica o movimento negro como “escória maldita”.

Como se não bastasse a declaração criminosa, Sérgio Camargo chama Zumbi de “filho da puta que escravizava pretos”. A gravação foi feita durante reunião a portas fechadas, realizada no dia 30 de abril, em que Camargo expressou desprezo pela agenda da “Consciência Negra” e usou o termo “macumbeira” para referir-se a uma mãe de santo. Além disso, o presidente da Fundação Palmares ameaçou exonerar diretores da entidade que não tiverem como “meta” a demissão de “esquerdistas”.

A fatídica reunião aconteceu para tratar do desaparecimento de um aparelho de telefone celular pertencente à Fundação. Camargo irritou-se ao ser cobrado pelo ressarcimento do equipamento e afirmou que o aparelho desapareceu no período em que ele esteve afastado, por decisão judicial, do cargo.

Durante o diálogo mantido com os participantes da reunião, Camargo disse ter deixado o aparelho na gaveta de um móvel da própria instituição, não sem antes insinuar que o eventual furto pode ter ocorrido de forma proposital para prejudicá-lo. Nesse exato momento ele se refere criminosa e pejorativamente ao movimento negro.

“Eu exonerei três diretores nossos (…). Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadir esse prédio para me espancar, invadir com a ajuda de gente daqui… O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”, disse o presidente da Fundação Palmares. “Agora, eu vou pagar essa merda aí”, completou, em referência ao aparelho de celular.

 
Aos dois servidores que participaram da reunião, Camargo afirmou ter sido afastado do comando da Palmares, durante três meses, por uma liminar que censurou suas opiniões em redes sociais. Na ocasião, a Justiça decidiu pelo afastamento com base em suas polêmicas declarações, nas quais minimizou o crime de racismo.

Durante o encontro, Sérgio Camargo disse que em razão da suspensão por ordem da Justiça teria de devolver o salário referente a dezembro de 2019. O presidente da Fundação disse também que tentaria parcelar o débito em dez vezes, já que havia contraído aproximadamente R$ 50 mil em dívidas. Na sequência, ele ameaçou os servidores com retaliações.

Em meio a uma enxurrada de palavras de baixo calão, Camargo garantiu que o processo para tirá-lo do comando da Fundação Palmares “não vai dar em nada”, pois, na sua opinião, teria ocorrido “usurpação” do poder do presidente Jair Bolsonaro.

“Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer”, ameaçou.

Recorrendo à “liberdade de expressão” para justificar seus desvarios, Sérgio Camargo de novo criticou Zumbi dos Palmares, que dá nome à Fundação. “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar agenda consciência negra. Aqui não vai ter, vai ter zero da consciência negra. Quando cheguei aqui, tinham eventos até no Amapá, tinha show de pagode no dia da consciência negra”, esbravejou.

Fosse o governo de Jair Bolsonaro minimamente sério e responsável, Camargo já teria sido exonerado e estaria respondendo a processo por crime de racismo, não por injúria racial, cuja pena é menos gravosa. Contudo, apesar de todo o destampatório contido na gravação, Camargo continuará à frente da Fundação Cultural Palmares apenas por causa do seu pensamento e de suas declarações criminosas.