Fábio Faria nas Comunicações é atentado à democracia e mostra que Bolsonaro é “mais do mesmo”

 
A escolha do deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) para comandar o ressuscitado Ministério das Comunicações é mais uma prova cabal que o presidente da República é um digno representante do que ele próprio chama de “velha política”.

Ao tirar as Comunicações do “guarda-chuva” do Ministério de Ciência e Tecnologia, sob a batuta do astronauta Marcos Pontes, o presidente Jair Bolsonaro rasga vários discursos de campanha, a começar pela promessa de que, se eleito, decretaria o fim do “toma lá, dá cá”. O segundo ponto envolve a promessa de ter apenas 15 ministérios, como forma de evitar gastos desnecessários.

Alvo de quase três dúzias de pedidos de impeachment, todos estacionados na escrivaninha do presidente da Câmara dos Deputados, o presidente Bolsonaro se rendeu ao jogo sujo da política e passou a distribuir cargos aos partidos do “Centrão”, mandando pelo ralo a declaração, dada no início do governo, de que estava sendo chantageado por parlamentares acostumados com as bizarrices de gestões anteriores, em clara referência às administrações petistas.

Digno (sic) representante da “velha política”, Bolsonaro afronta o meio em que vive há décadas, pois colocou os três filhos mais velhos na política. Além disso, ao longo dos 28 anos em que passou no Parlamento, Bolsonaro jamais fez algo em prol do País, tendo se dedicado a protagonizar escândalos e fazer declarações absurdas e homenagens a torturadores.

Por falar em escândalo, Fábio Faria, que em tempos outros disparava salamaleques na direção de Lula e Dilma Rousseff, foi salvo pelo então deputado federal Michel Temer, ex-presidente da República, no caso do uso de passagens aéreas do gabinete para levar personalidades ao seu camarote no Carnaval de Natal. O caso aconteceu no início de 2009, mas acabou engavetado por conta da pasmaceira de Temer, que a época era presidente da Câmara dos Deputados.

No que tange o combate à corrupção, uma das bandeiras de campanha de Bolsonaro, o futuro ministro das Comunicações foi citado em delação da JBS no âmbito do escândalo do Petrolão, que sangrou os cofres da estatal petrolífera brasileira.

Em setembro de 2017, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou abertura de inquérito para investigar Fábio Faria e seu pai, Robinson Faria, então governador do Rio Grande do Norte, no escopo das delações premiadas de executivos do grupo de propriedade dos irmãos Joesley e Wesley Batista (J&F).

De acordo com o pedido de abertura de inquérito, apresentado ao STF pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o executivo Ricardo Saud, do grupo J&F, afirmou que Fábio e Robinson Faria receberam doações não declaradas à Justiça Eleitoral.

 
De acordo com Saud, o grupo empresarial repassou aos Farias R$ 10 milhões sob condição de que a Companhia de Água e Esgoto do Estado do Rio Grande do Norte fosse privatizada, “dando conhecimento prévio do edital a empresa para que pudessem alterá-lo a seu favor, a fim de obter vantagens competitivas em detrimento ao mercado”.

Segundo a denúncia apresentada por Janot, os R$ 10 milhões foram repassados da seguinte forma: R$ 2 milhões ao PSD Nacional; R$ 2 milhões à EA Pereira Comunicação Estratégica; R$ 1,2 milhão ao escritório Erick Pereira Advogados por meio de nota fria; cerca de R$ 2 milhões entregue ao deputado Fábio Faria; e quase R$ 1 milhão entregues ao deputado no Supermercado Boa Esperança, em Natal.

O nome de Fábio Faria é citado na planilha do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como departamento de propinas, sob a as alcunhas “Bonitão” e Garanhão”. O seu pai, Robinson Faria, também tem o nome na lista de propinas da Odebrecht, sob a alcunha “Bonitinho”. A exemplo do que é mencionado no inquérito, Fábio teria recebido R$ 100 mil da Odebrecht, na campanha de 2010, enquanto o pai foi beneficiado com R$ 350 mil doados pelo grupo empresarial.

Não se trata de condenar antecipadamente quem quer que seja, pois afinal o UCHO.INFO defende o Estado de Direito e, por conseguinte, a presunção de inocência – “ninguém será considerado culpado até o trânsito e julgado de sentença pela condenatória” (CF, artigo 5º, inciso LVII) –, mas no âmbito do Estado é preciso que prevaleça sempre o dito popular que remonta aos tempos da Roma Antiga, onde os cidadãos diziam que à mulher do imperador Júlio César, Pompéia Sula, não basta ser honesta, mas parecer como tal.

Pois bem, para um presidente da República que se elegeu criticando os atos de corrupção praticados por integrantes dos governos petistas e seus ladravazes apoiadores, indicar Fábio Faria para comandar o Ministério das Comunicações é no mínimo falta de bom-senso e incoerência explícita.

Além desses detalhes, todos merecedores da delegacia mais próxima, o fato de Fábio Faria ser genro do empresário e apresentador Senor Abravanel, o Silvio Santos, dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), configura inequívoco conflito de interesses. Até porque, a pasta das Comunicações regula e fiscaliza as concessões de emissoras de televisão.

Tudo o que foi mencionado nesta matéria pouco importa se considerado o fato de que Jair Bolsonaro emprestou R$ 40 mil a Fabrício Queiroz, sem jamais ter comprovado a origem do dinheiro; a primeira-dama Michelle Bolsonaro recebeu em sua conta bancária depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz, mas jamais falou sobre o tema; o senador Flávio Bolsonaro é investigado no caso das malfadadas “rachadinhas”, mas o presidente insiste em protegê-lo; Jair Bolsonaro, assim como os filhos, se especializaram em empregar em seus respectivos gabinetes funcionários-fantasmas, remunerados com o suado dinheiro do contribuinte. Não obstante, Bolsonaro mantém no Ministério da Cidadania um réu-confesso por crime de caixa 2 (Onyx Lorenzoni) e no Turismo um acusado de plantar um “laranjal de candidatos” (Marcelo Álvaro Antônio). Em suma, Fábio Faria e a família Bolsonaro falam o mesmo idioma.