Prisão de Fabrício Queiroz: finalmente foi respondida a pergunta que intrigava a maioria dos brasileiros

 
A Polícia Civil prendeu na manhã desta quinta-feira (18), em Atibaia, no interior paulista, o policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. A operação que resultou na prisão do operador das malfadadas “rachadinhas” foi deflagrada em conjunto com o Ministério Público de São Paulo.

Queiroz estava em um imóvel de propriedade de Frederick Wassef, advogado de Flávio e do presidente Jair Bolsonaro. Logo após a operação policial, a família Bolsonaro reagiu nas redes sociais afirmando que se trata de mais um capítulo do projeto para derrubar o presidente, o que não condiz com a verdade, pois na democracia “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, como prega a Constituição Federal em seu capítulo 5º (caput).

Mandados de busca e apreensão e de prisão foram expedidos pela Justiça do Rio de Janeiro no âmbito da investigação sobre o criminoso esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro, à época em que cumpria mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa fluminense (2003-2019). A Polícia Civil do Rio também fez buscas em imóvel do presidente Bolsonaro em Bento Ribeiro, na zona norte da capital fluminense, onde funcionou um comitê de campanha na corrida presidencial de 2018.

Investigado por lavagem de dinheiro, Queiroz é suspeito de operar o esquema de “rachadinha”, que consiste na retenção de parte dos salários dos funcionários e assessores parlamentares, prática que também é conhecida como “operação gafanhoto”.

Em maio, a Polícia Federal afirmou que investigaria a denúncia feita pelo empresário Paulo Marinho de que o senador Flávio Bolsonaro fora informado com antecedência sobre a deflagração da Operação Furna da Onça, que atingiu Queiroz. Pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Marinho é o primeiro suplente de Flávio no Senado e foi uma figura importante na campanha presidencial de Bolsonaro.

A Operação Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato, foi deflagrada em novembro de 2018. Flávio teria revelado a Marinho em 13 de dezembro de 2018 que soube com antecedência da ação policial. À época, quando Queiroz estava sumido, Flávio disse ao suplente que mantinha contato indireto com o ex-assessor por meio de um advogado.

 
Em 6 de dezembro de 2018, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, detectou uma série de operações bancárias suspeitas de mais de sete dezenas de assessores e ex-assessores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O documento foi produzido no âmbito da Furna da Onça.

Na lista constava o nome de Fabrício Queiroz, amigo de longa data de Jair Bolsonaro (desde a década de 80), que de chofre passou à condição de personagem central da primeira crise do novo governo.

De acordo com o relatório inicial do Coaf, Queiroz, que mora em modesto apartamento em um bairro de classe média baixa do Rio, movimentou R$ 1,2 milhão ao longo de doze meses, entre 2016 e 2017, época em que estava lotado no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. O documento apontou que as movimentações eram “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional” de Queiroz.

O mesmo relatório detalhou as operações bancárias realizadas pelo ex-assessor. Entre elas estava o depósito de um cheque de R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Até o momento, o assunto não foi esclarecido, sendo que Michele não se pronunciou sobre o depósito. O presidente da República se limitou a dizer que o depósito era referente à devolução de parte de um empréstimo (R$ 40 mil) feito a Queiroz. Ao todo, o ex-assessor parlamentar sacou dinheiro vivo em 176 oportunidades, em 14 bairros cariocas. Vários dos saques eram idênticos e fracionados, o que levantou suspeitas de tentativa de ocultação.

O relatório ainda citou a filha de Queiroz, Nathalia Melo de Queiroz, beneficiada pelos recursos movimentados pelo pai. Nathalia foi funcionária do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro entre dezembro de 2016 e outubro de 2018.

Em março de 2019, Queiroz quebrou o silêncio, oferecendo à Justiça, pela primeira vez, explicações sobre as suspeitas de corrupção. O ex-assessor disse ao Ministério Público que recolhia parte dos salários de servidores do gabinete, mas negou ter se apropriado dos valores. Em depoimento por escrito, ele alegou que os recursos eram utilizados para contratar assessores informais e “expandir a atuação parlamentar” de Flávio nas bases eleitorais. Segundo o depoimento, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro desconhecia o esquema.