Bolsonaro “joga a toalha” e envia a SP trio de assessores para dialogar com Alexandre de Moraes, do STF

 
O presidente Jair Bolsonaro chegou às “cordas” e começa a reavaliar sua postura beligerante, marcada por claros e rasteiros ataques ao Judiciário e ao Legislativo, como forma de reduzir a possibilidade de ser apeado do cargo. Depois de investir seguidamente contra os Poderes constituídos e defender seus radicais apoiadores, Bolsonaro foi “nocauteado” pela prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do seu primogênito, na manhã de quinta-feira (18), em Atibaia.

Pouco mais de 24 horas após a prisão de Queiroz, o presidente da República despachou para a capital paulista três auxiliares de peso, todos da área jurídica, com o intuito de reunirem-se com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal federal (STF), relator do inquérito das “fake news”, que apura a disseminação de notícias falsas e ofensas e ameaças aos magistrados e seus familiares.

Disposto a qualquer ato impensado para blindar os filhos, Bolsonaro viu seu projeto paternalista ruir em questão de semanas. Se por um lado inquérito do STF chegou muito próximo de Eduardo e Carlos Bolsonaro no âmbito do chamado “gabinete do ódio’, por outro a prisão do ex-assessor parlamentar escancarou a relação espúria da família presidencial com o ilícito.

Esse cenário típico de “Gotham City”, cidade fictícia criada para história em quadrinhos, revela que o discurso moralista que Bolsonaro adotou durante a campanha era uma enorme farsa, como sempre afirmou o UCHO.INFO. Com a revelação dos estupefacientes detalhes que proporcionaram ao governo a pior semana até o momento, o presidente decidiu jogar a toalha e acenar com uma não confiável bandeira branca na direção do Supremo.

André Mendonça, ministro da Justiça Jorge Oliveira, ministro-chefe da Secretaria da Presidência, e José Levi Mello do Amaral Júnior, advogado-geral da União, rumaram logo cedo para a cidade de São Paulo, onde se encontraram com Moraes. O encontro não constava da agenda de nenhum dos três, mas o Palácio do Planalto informou, após pressão da imprensa, que a reunião serviu para tratar de assuntos de interesse do governo.

 
Cada um acredita no que bem entender, mas afirmar que uma reunião fora da agenda que acontece às pressas em plena sexta-feira só pode ter como pano de fundo uma operação de combate às ardentes labaredas de um incêndio provocado pelo “piromaníaco político” Jair Messias Bolsonaro.

Como Alexandre de Moraes é uma das pontas de lança na batalha que o Supremo trava com o governo para fazer valer o texto constitucional, não por acaso os assessores presidenciais o encontram às pressas na maior cidade brasileira, de onde já saíram rumo a Brasília. De acordo com o trio, o resultado do encontro foi excelente.

Bolsonaro sabe – ou deveria saber – que o ministro Alexandre de Moraes pode causar novos estragos ao governo caso imprima ao inquérito das “fake news” o ritmo que qualquer democracia exige. Moraes tem em suas mãos a possibilidade de revelar o envolvimento dos filhos do presidente no escândalo das notícias falsas e a chance de a qualquer momento decretar a prisão de Abraham Weintraub, cuja demissão do Ministério da Educação ainda não foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Além disso, Moraes tem sobre a escrivaninha um pedido do ministro Og Fernandes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de compartilhamento das provas do inquérito das “fake news” para embasar as ações que podem levar à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. O referido pedido pode ser deferido a qualquer momento, uma vez que o STF abriu caminho para tal ao validar o respectivo inquérito. De quebra, para desespero do Palácio do Planalto, Alexandre de Moraes é membro da Corte Eleitoral.

O ponto fulcral nesse cenário está em possível movimento de debandada dos militares, que não permitirão que as Forças Armadas voltem a ser enxergadas com uma nova cada de ranço e retrocesso por endossar um governo autoritário, perdido e envolvido com escândalos preocupantes. Na opinião do UCHO.INFO, esse movimento de “bater em retirada” já começou, mesmo que em marcha lenta, pelo fato de que os militares, em especial os generais palacianos, constataram que contra Hamilton Mourão nada existe até o momento.