O anúncio feito pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na noite de domingo (21), informando que o advogado Frederick Wassef não mais responde por sua defesa no polêmico caso das “rachadinhas” é no mínimo controverso, considerando as desencontradas versões sobre a saída do causídico que “hospedou” Fabrício Queiroz.
Wassef disse em entrevista que tanto o senador fluminense quanto o presidente da República, Jair Bolsonaro, desconheciam que Fabrício Queiroz estava em imóvel de sua propriedade em Atibaia, cidade do interior paulista. O advogado afirmou, por meio de nota, que deixava o caso para não ser usado pela imprensa e evitar qualquer prejuízo à família presidencial.
No contraponto, a saída de Frederick Wassef se deu na esteira de uma decisão da família Bolsonaro, que tenta se desvencilhar do escândalo envolvendo o sumiço de Queiroz durante aproximadamente um ano. Mesmo assim, Flávio Bolsonaro publicou nota em suas redes sociais informando que mesmo contra sua vontade o advogado deixou o caso. O senador exaltou na nota o empenho e a lealdade de Wassef.
Se por um lado o fato de Fabrício Queiroz ter permanecido por tanto tempo na casa do então advogado do senador no inquérito que apura o escândalo das “rachadinhas” exigir explicações convincentes, tanto de Flávio Bolsonaro quanto do presidente da República, por outro também merece esclarecimentos a contratação de Rodrigo Roca para comandar a defesa do parlamentar.
Roca foi indicado pela ala militar do Palácio do Planalto, que há muito via em Wassef uma possibilidade problemas. Antes de o nome do novo advogado surgir em cena, o renomado criminalista Nabor Bulhões foi consultado pela família Bolsonaro e por assessores presidenciais para eventualmente assumir a defesa de Flávio.
Com escritório em Brasília, o que dificultaria sua atuação em um caso que tramita na Justiça do Rio de Janeiro, Bulhões tornou-se conhecido da opinião pública quando defendeu o ex-presidente Fernando Collor de Mello e o empresário alagoano Paulo César Faria, o PC. Além disso, o criminalista defendeu Marcelo Odebrecht em um dos inquéritos decorrentes da Operação Lava-Jato e Cesare Battisti, na Itália.
Após consulta, Bulhões disse que pensaria na possibilidade de assumir a defesa de Flávio Bolsonaro e que daria uma resposta no começo desta semana, mas o anúncio de que Roca é o novo advogado do senador do Republicanos coloca um ponto final no assunto, pelo menos por enquanto.
Discreto e com bom trânsito nas Cortes superiores, Bulhões teria alegado, além da questão da distância entre o seu escritório e o Rio de Janeiro, o fato de que uma defesa em caso tão complexo exigiria dedicação quase integral. Como o criminalista está à frente de outros casos de clientes, a possibilidade de assumir a defesa de Flávio começou minguar com o avanço dos dias.
Alguns destacados criminalistas teriam sido consultados para assumir a defesa de Flávio Bolsonaro, mas a recusa foi quase unânime ou a imposição de condições podem ter inviabilizado o acordo. Em outras palavras, a defesa do senador não é fácil, principalmente diante de uma eventual delação premiada por parte de Fabrício Queiroz.
Independentemente de quem seja o responsável pela defesa de Flávio Bolsonaro, uma empreitada de tamanha complexidade custa muito dinheiro. Quem acompanha os bastidores políticos em Brasília e conhece os meandros dos escândalos que sacodem a capital dos brasileiros sabe que o custo de uma defesa como essa gira na casa dos sete dígitos (sempre antes da vírgula), talvez, a depender da dificuldade, dos oito dígitos.
Que ninguém surja com o discurso pronto de que a notoriedade da família Bolsonaro faz com que advogados aceitem trabalhar de graça ou cobrando muito abaixo do que se pratica no Direito Criminal. Não se trata de colocar em xeque a idoneidade do defensor do filho do presidente da República, mas é importante saber a origem dos recursos que serão destinados aos honorários advocatícios, já que Flávio tem o salário de senador e os rendimentos de uma franquia de chocolates, a qual é suspeita de ser “lavanderia financeira”.
Tomando por base o fato de que Flávio Bolsonaro enfrenta dificuldades para comprovar o pagamento das mensalidades da escola onde estudam as filhas e do plano de saúde familiar, que segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro foram pagas por Queiroz, é preciso que alguém explique como será custeada a defesa do senador.