Wassef disse de início que não escondeu Queiroz, agora alega que hospedou-o por “questão humanitária”

 
O escândalo das “rachadinhas”, que tem na proa o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), exige explicações minimamente convincentes, que até o momento não surgiram, mas declarações dadas a esmo só pioram um cenário que tende a se complicar com o passar dos dias.

Ex-defensor do presidente Jair Bolsonaro e do senador fluminense, o advogado Frederick Wassef está sendo “devorado” pelas próprias palavras. No final de semana, ao ser questionado pela jornalista Andréia Sadi, da GloboNews e do portal G1, se havia emprestada a casa de Atibaia a Queiroz, o advogado negou essa possibilidade, ao mesmo tempo em que disse não ter os contatos do ex-assessor parlamentar.

“Não, porque eu não falei com o Queiroz, não tenho o telefone do Queiroz, eu nunca troquei mensagem com o Queiroz. O que eu posso dizer é o seguinte: sobre a pauta Queiroz, eu só vou poder falar até o ponto que eu posso falar por uma questão de sigilo”, respondeu Wassef.

Nesta segunda-feira (22), em entrevista ao telejornal SBT Brasil, o advogado mudou o discurso e afirmou ter abrigado Queiroz na residência de Atibaia por “questão humanitária”.

“O que eu tenho para dizer é o seguinte: jamais escondi Fabrício Queiroz. Ele estar lá não é nenhum crime, nenhum ilícito, não é obstrução de justiça, não há nenhuma irregularidade”, disse Frederick Wassef.

 
Perguntado se hospedou Queiroz por questão humanitária, já que no início de 2019 o ex-assessor de Flávio Bolsonaro submeteu-se a cirurgia para a retirada de um tumor no cólon e consequente tratamento quimioterápico, o advogado endossou a tese. “Também foi uma questão humanitária. Porque uma pessoa que está abandonada, uma pessoa sem recursos financeiros, uma pessoa com problemas de saúde e que o local era perto”, declarou Wassef.

É importante ressaltar que é de mais de 90 quilômetros a distância entre a cidade de Atibaia e o Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista, onde Queiroz passou por cirurgia e iniciou o tratamento contra um câncer no intestino. Nos hospitais localizados na região de Atibaia não há qualquer registro de que Queiroz tenha procurado tratamento médico para o tumor no cólon.

Wassef pode alegar que ter abrigado o ex-assessor em imóvel de sua propriedade não configura crime de obstrução de justiça, mas o fato de ter defendido Flávio Bolsonaro no inquérito das fatídicas “rachadinhas” já levou algumas autoridades a falarem, nos bastidores, em possível cometimento de crime. Além disso, se o presidente da República era defendido por Wassef, é impossível que Bolsonaro desconhecesse o fato. Afinal, o advogado disse que acompanhava de perto o cotidiano da família presidencial em Brasília.

No primeiro momento, Wassef disse que desconhecia o paradeiro de Queiroz e sequer manteve contato com o ex-assessor do seu outrora cliente. Na sequência alega “questão humanitária” para justificar o tempo que Queiroz passou em sua propriedade.

Frederick Wassef, que foi do céu ao inferno em questão de horas, tem direito a alegar o que lhe convier, mas não pode querer que a opinião pública e as autoridades acreditem nesse enredo farsesco, que corre o risco de desmoronar caso Queiroz decida pela delação premiada.