A “maré mansa” em que se encontra o presidente Jair Bolsonaro é falsa e de encomenda, cuja duração depende dos desdobramentos dos casos judiciais envolvendo seus filhos. Ou seja, o chefe do Executivo federal tenta passar ao Judiciário um “bom-mocismo” que não coaduna com a realidade nem com sua essência autoritária.
No momento, o fantasma que assombra o Palácio do Planalto atende pelo nome de Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e responsável financeiro pelo esquema criminoso conhecido como “rachadinhas”, que funcionou no gabinete do primogênito do presidente da República enquanto deputado estadual.
Para tirar o sono dos palacianos, Flávio Bolsonaro e a esposa, Fernanda, foram intimados pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) a prestarem depoimento no âmbito da investigação sobre o esquema de “rachadinha”, que consiste na devolução de parte do dos salários de servidores
O Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc), do MP-RJ, agendou o depoimento de Fernanda para a próxima segunda-feira (6), ao passo que o senador deve depor no máximo até terça-feira. A defesa de Flávio Bolsonaro informou que as datas são “uma sugestão” do Ministério Público. Ou seja, os advogados começam a esticar a corda, mesmo depois de terem anunciado o desejo do cliente em depor.
O Gaecc investigava o caso desde abril de 2019, mas na última semana o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), contrariando jurisprudência do Supremo Tribunal federal (STF), concedeu foro especial a Flávio Bolsonaro, remetendo o caso à segunda instância. Com essa decisão, o titular da investigação passou a ser o procurador-geral de Justiça do RJ, Eduardo Gussem.
Para conturbar ainda mais o processo e ganhar tempo, a defesa de Flávio alega que o Gaecc não tem competência para continuar à frente do caso. Contudo, o MP-RJ esclareceu, em nota, que “a chefia institucional delegou aos promotores de Justiça do Gaecc/MP-RJ os poderes para prosseguir nas investigações até seu termo final”.
De acordo com a nota, “o Gaecc/MP-RJ atua em auxílio ao promotor natural que, no caso, por conta do decidido pela Terceira Câmara do TJ-RJ em recente habeas corpus, passou a ser o procurador-geral de Justiça”. O caso permanece sob sigilo e “as investigações seguem seu curso normal, sem paralisações desnecessárias por conta de mudanças de competência jurisdicional”, ressalta o comunicado.
Eleito sob a embusteira promessa de combate à corrupção e de extirpar o que chamou de “velha política”, Jair Bolsonaro deveria aconselhar o filho a desistir da estratégia de procrastinações, que já dura mais de 18 meses. Se Flávio Bolsonaro é inocente, como ele próprio alega, e seu patrimônio é condizente com a movimentação financeira alvo de investigação, que não crie óbice ao inquérito e deponha sem impor condições.
Esse movimento procrastinatório visa ganhar tempo para que Flávio e Fernanda encontrem uma explicação minimamente convincente para o cipoal de boletos e carnês pagos com dinheiro vivo, sem que os valores correspondentes tenham sido movimentados nas contas bancárias do casal. Alguns desses compromissos financeiros do senador foram pagos na boca do caixa, em espécie, por Fabrício Queiroz.
A grande questão nesse caso é que as investigações chegaram ao calcanhar de Aquiles de uma família de políticos que em 2018 aproveitou a insatisfação da sociedade com a política nacional, sendo que o brasileiro não se deu conta que os Bolsonaros são “mais do mesmo”. Fabrício Queiroz que o diga!