A absurda decisão do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, de conceder o benefício de prisão domiciliar ao ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, investigado por operar o esquema criminoso das “rachadinhas”, proporcionou certo alívio à família do presidente da República, como informou o UCHO.INFO em matéria publicada na edição de quinta-feira (9).
A decisão de Noronha vem recebendo duras críticas nas últimas horas, principalmente de integrantes do STF, que classificaram a atitude como “vergonhosa”, mas de todo modo a medida deixa o presidente Jair Bolsonaro em situação menos desconfortável, principalmente porque reduz, mesmo que momentaneamente, a possibilidade de o ex-assessor optar pela colaboração premiada.
Queiroz, que é amigo da família Bolsonaro há muitos anos e próximo do presidente, esquivou-se de declarações mais contundentes e reveladoras no seu primeiro depoimento às autoridades, porém não se pode descartar uma eventual delação, caso as investigações avancem ainda mais sobre os envolvidos no escândalo.
É sabido que o fato de Fabrício Queiroz estar em prisão domiciliar representa um enorme perigo, já que a tentativa de destruir provas e coagir testemunhas volta à cena, mas a única forma de “trancar” a ação investigatória é fazer com que o caso avance na direção do presidente Jair Bolsonaro, uma vez que o presidente só pode ser processado por crimes cometidos no exercício do cargo. Porém, isso não impede que as investigações continuem.
Bolsonaro, todos sabem e é notório, mudou seu comportamento após a prisão de Queiroz, deixando de lado os ataques à democracia e aos Podres constituídos – leia-se Judiciário (STF) e Legislativo (Congresso Nacional). Contudo, uma eventual retomada do discurso beligerante seria viável e provável se o Facebook não tivesse denunciado a relação promíscua e criminosa do presidente da República com os integrantes do chamado “gabinete do ódio”.
O presidente tem negado a existência do tal gabinete, que funciona no Palácio do Planalto e é custeado com o suado dinheiro do contribuinte, pois reconhece que um desdobramento do caso poderá levá-lo a um processo de impeachment irreversível. Afinal, configura crime de responsabilidade consentir com a prática de investidas sórdidas contra adversários políticos e ideológicos nas redes sociais por meio de perfis falsos e impulsionamento de mensagens inverídicas com o uso dos chamados “robôs”.
A democracia brasileira continua se equilibrando na corda bamba do autoritarismo que Bolsonaro tenta impor à nação, mas a Justiça tem sido célere e certeira na tomada de decisões para proteger o País e a liberdade de cada cidadão. Não se pode aceitar o discurso de que a derrubada de perfis no Facebook e no Instagram representa uma amaça à liberdade de expressão, que tem sido confundida pelos bolsonaristas com direito à prática criminosa.
Além disso, o desespero de Jair Bolsonaro, que poderia ser amenizado pela decisão em favor de Queiroz, galga alguns degraus à sombra de outras ações judiciais, como, por exemplo, a que tramita no STF para apurar notícias falsas e ameaças aos integrantes da Corte e a que está em curso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com foco na chapa que venceu a eleição presidencial de 2018.
Eleito dentro das regras democráticas, apesar das muitas transgressões cometidas ao longo da campanha, Bolsonaro valeu-se do discurso de ódio e de intolerância para tentar impor ao País um estilo de governar que remete ao condenável período da ditadura militar, quando a sociedade, com medo das terríveis consequências, comportava-se como manada a endossar arbitrariedades de todos os naipes.
Que ninguém aposte em uma eventual mudança no comportamento de Bolsonaro, pois o bom-mocismo que agora o presidente exibe diante de câmeras e microfones não passa de fruto da necessidade de sobrevivência política. Além disso, em jogo está a preservação da burra e retrograda ideologia direitista, que por conta das trapalhadas da súcia bolsonarista cambaleia à beira do precipício, para a sorte dos brasileiros de bem. Não fosse o cerco do Judiciário, que tomou decisões tão necessárias quanto perigosas, o Brasil teria dado largos passos na direção do neofascismo.
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