PM que pisou no pescoço de mulher negra em São Paulo deveria estar preso, não afastado das funções

 
Não é a primeira vez que o UCHO.INFO alerta para o que batizou como “milicianização” das polícias estaduais e municipais em todo o País. Esse movimento se deve à inequívoca simpatia dos policiais pelo presidente Jair Bolsonaro, adepto confesso do estilo “bate e arrebenta”. É importante lembrar que em fevereiro de 2018, meses antes do início oficial da corrida ao Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que a solução para acabar com a rivalidade entre traficantes de drogas na Rocinha seria “metralhar” a favela carioca.

À época, durante evento patrocinado por um banco de investimentos, Bolsonaro propôs enviar um helicóptero à favela para despejar folhetos informando que os criminosos teriam no máximo seis horas para se entregar, caso contrário a comunidade seria metralhada.

Esse ideário criminoso defendido por Jair Bolsonaro entranhou nas polícias estaduais e municipais, fazendo com que a escalada da violência por parte dos agentes de segurança aumentasse sobremaneira em todo o País.

Quando alguém que defende a violência como forma de combater a violência chega à Presidência da República, a mensagem que fica é que a partir da posse o “vale tudo” reina absoluto em todo território nacional, o que não é verdade.

Desde que Bolsonaro subiu a rampa do Palácio do Planalto, os brasileiros têm assistido ao aumento da violência por parte de policiais. O mais recente caso envolve policiais militares paulistas, que no último dia 30 de maio ultrapassaram os limites do aceitável em uma ocorrência no bairro de Parelheiros, na zona sul da cidade de São Paulo.

Uma mulher negra de 51 anos, dona de um pequeno comércio da região, foi arrastada e teve o pescoço pressionado pelo pé de um encorpado policial militar. Os PMs que participaram da ocorrência alegaram ameaça de agressão por parte da comerciante, mas, se verdadeira a alegação, não justifica a atitude truculenta que remeteu ao assassinato do americano George Floyd, nos Estados Unidos, por asfixia cometida por um policial da cidade de Minneapolis.

 
Mesmo com o vídeo da truculenta ação dos PMs, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que os agentes foram afastados das atividades operacionais da corporação, assim permanecendo até a conclusão das investigações, e que foi instaurado inquérito para apurar o caso.

“Equipes responsáveis pelo IPM realizam diligências para colher provas e informações que auxiliem a esclarecer os fatos. A mulher mencionada pela reportagem, após liberação médica, foi apresentada à autoridade policial, no dia 31. Informada sobre seus direitos, ela decidiu permanecer em silêncio e se pronunciar apenas em juízo, assim como os outros dois homens detidos no dia anterior”, destaca trecho da nota divulgada pela SSP-SP.

O porta-voz da PM paulista, capitão Osmário Ferreira, informou que o ato do policial pisando no pescoço da comerciante não faz parte dos procedimentos adotados pela corporação.

“Havendo oposição da força, cabe ao PM agir conforme o procedimento operacional padrão. Caso haja erro procedimental, o PM é submetido a um estudo de caso e análise pormenorizada da conduta”, disse Ferreira. “Houve uma violação neste caso, não houve erro procedimental. A atuação dele não faz parte do procedimento operacional padrão da PM”, ressaltou o porta-voz.

Se o vídeo da atuação dos policiais fala por si só e o ato de pisar no pescoço de uma pessoa foge aos padrões operacionais da PM, é desnecessário aguardar a conclusão das investigações para decidir o destino dos policiais envolvidos na agressão. Afastá-los das atividades externas da PM paulista é premiar quem deveria estar preso e expulso da corporação.

Caso tivesse ocorrido o contrário, ou seja, a mulher pressionando com o próprio pé o pescoço do policial, a essa altura a agressora estaria atrás das grades, até porque no caso em questão ficou patente a tentativa de homicídio. O resultado do inquérito será semelhante ao da investigação que apurou a atuação de PMs na favela de Paraisópolis, na cidade de São Paulo. Em outras palavras, a investigação resultará em nada e contará a com a complacência torpe do governador João Dória Júnior (PSDB).

Eis os efeitos colaterais de um governo desqualificado que flerta com o retrocesso e o obscurantismo, que defende a conclusão do trabalho que os militares não fizeram durante a ditadura (palavras de Jair Bolsonaro) e homenageia torturadores.

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