Um ex-guarda de campo de concentração nazista, de 93 anos, foi condenado nesta quinta-feira (23) por um tribunal de Hamburgo, que Alemanha é visto como provável último julgamento envolvendo uma pessoa que participou ativamente do Holocausto.
Bruno D. era acusado de cumplicidade no homicídio de 5.230 pessoas no campo de concentração e extermínio de Stutthof, nas proximidades da antiga Danzig (atualmente Gdansk). Ele serviu no local entre agosto de 1944 e abril de 1945.
O idoso recebeu pena suspensa de dois anos de prisão – ou seja, não precisará ir para uma penitenciária. Ele foi julgado por um tribunal juvenil, pois tinha apenas 17 anos quando começou a trabalhar como vigia no campo de concentração.
Setenta e cinco anos depois do fim do regime nazista, o tribunal declarou que qualquer um que estivesse na torre de vigia de um campo de concentração pode ser considerado cúmplice dos assassinatos.
O processo foi movido por cerca de 40 coautores, incluindo 35 sobreviventes do campo de concentração. Quatro deles testemunharam pessoalmente no tribunal e dois foram ouvidos por vídeo. Eles relataram maus-tratos diários, como espancamentos, execuções, fome e uma epidemia de tifo.
O réu pediu desculpas às vítimas durante audiência na última segunda-feira (20). “Hoje eu gostaria de pedir desculpas àqueles que passaram por esse inferno de loucura e a seus parentes – algo assim jamais deve se repetir”, disse.
Ele acrescentou que jamais tivera a intenção de assumir tal cargo. “Gostaria de enfatizar mais uma vez que nunca teria me voluntariado para a SS [organização paramilitar ligada ao Partido Nazista] ou para qualquer outra unidade, muito menos para um campo de concentração”, afirmou.
De acordo com a defesa, o réu só tomou conhecimento da verdadeira extensão das atrocidades cometidas no campo depois de depoimentos de testemunhas. O advogado Stefan Waterkamp salientou que o cliente não teve escolha, dadas as circunstâncias da época. Ele afirmou também que o papel de Bruno D. não deveria ser julgado pelos padrões de hoje, pois o serviço em campo de concentração estatal, de acordo com a visão predominante na época, não era “nenhum crime”.
Após a derrota do nazismo, Bruno D. passou um curto período em campo de prisioneiros e, depois, teve uma vida normal: casou-se, teve duas filhas e trabalhou como padeiro e motorista de caminhão.
O julgamento de Bruno D. é apenas um entre muitos que ocorreram nos últimos dez anos, em que guardas, burocratas e outros que trabalhavam com os nazistas tiveram de responder por suas ações no passado. Em 2011, o ucraniano John Demjanjuk, ex-guarda do campo de extermínio em Sobibor, foi sentenciado a cinco anos de prisão.
O caso judicial de Bruno D. também é considerado um dos últimos envolvendo crimes do nazismo. Outros casos semelhantes investigados nos últimos anos foram arquivados devido à incapacidade do réu de responder à Justiça por razões de idade ou saúde.
Inicialmente destinado a prisioneiros políticos poloneses, o campo de concentração de Stutthof foi o primeiro a ser construído fora da Alemanha, em 1939. No final da Segunda Guerra, o campo abrigava cerca de 115 mil deportados, muitos deles judeus. Cerca de 65 mil pessoas morreram no local. (Com agências internacionais)
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